livro 1 - Sanduri - A jornada de Adriel (todos os capítulos ate o momento)
- Elton Pereira
- 15 de ago. de 2022
- 73 min de leitura
Atualizado: 6 de set. de 2022
Sinopse:
A história de um menino que após perder seus pais em um ataque de demônio sai em vingança com seus poderes recém descobertos. Mas antes precisa ficar forte e aprender a controla-los.
Prólogo - O sobrevivente
Hellen Stebas cruza o corredor e entra na sala às pressas, ultimamente essa correria se tornou bem comum na sua vida desde que os ataques de Demônios aumentaram.
—Mãe, pai, preciso ir, não tenho hora pra voltar.— A jovem de vinte e poucos anos parece nervosa e mal consegue terminar de amarrar seu cabelo enquanto fala.
Estavam lá as três pessoas que Hellen mais amava sentadas dividindo um sofá marrom um tanto antigo porém muito aconchegante, toda a decoração da casa é antiquada e eles gostavam assim, estavam todos entretidos em um filme de ação na televisão.
—Mas já, minha filha? Você acabou de chegar, eu e sua mãe iríamos preparar seu prato favorito, carne seca com abóbora.—Seu pai ajeitava os óculos e descruzava as pernas para levantar.
—Não vou ficar para jantar pai, é muito importante, acabou de acontecer um ataque de nível B na cidade de Aurora e preciso ir agora, já relataram dezenas de vítimas. Viu onde deixei minhas armas? Não as acho em lugar nenhum. Sabe o quanto odeio que mexam nas minhas coisas, foi você Alice?— Hellen já estava completamente arrumada com seu colete preto e calça justa igualmente escura contrastando com seus cabelos cor de ouro, e olhava para todo canto procurando suas coisas, estava mesmo apressada.
—Não fui eu nada, mamãe quem guardou em cima da estante, ali ó.—Alice Stebas aponta para uma estante no estilo colonial, recheada de livros de cima a baixo e lá no topo estavam as suas armas.
—Eu não iria mexer nas suas coisas se você não as jogasse por ai em qualquer canto Hellen.—Sua mãe se levanta. —Tome cuidado filha, que os Deuses a protejam.
Hellen pega suas armas e faz uma ligação enquanto vai à varanda.
—Douglas?... Sim, ela mesmo, você também recebeu o chamado?... Isso, fica no nosso quadrante, estou te mandando agora a localização.— Hellen envia pelo seu celular a localização do ataque.—O que?... Está bem mas se apresse, não sabemos exatamente o que vamos enfrentar e o demônio já fez muito estrago, pelo que me contaram... Ok, mais corre. Tchau - beijos, a gente se vê lá... Está bem, está bem, tchau.
Todos se despedem dela, a moça toca no totem de Murazir e em seus pensamentos diz o destino que quer ir. O totem é um pequeno poste lilás brilhoso de um metro e meio de altura, com a espessura de um abacaxi e fica preso em uma base de cerâmica manchada e incrustada de runas mágicas.
“Cidade de Aurora, quadrande 22.”
Ela teleporta da varanda iluminada da sua casa com aroma suave de tulipas para um beco escuro, sujo e úmido, além do mau cheiro, haviam vários ratos revirando uma lata de lixo tombada. Ela odiava essa parte da cidade, era o local mais violento do seu quadrante além de tudo ali ter cheiro de leite azedo, mas isso só deixa seu trabalho mais importante, imagina o número de pessoas que sofrem todos os dias nesta cidade, a presença de alguém como ela ajudava a dar esperanças para seguir em frente. Hellen Stebas corre pelas ruas desertas de Aurora, somente com a Lua e as estrelas de testemunha e ao som de um chiado grave e repetitivo de sirene, todos os cidadãos LAUENS ou não já sabiam que quando soa um aviso de ataque a melhor coisa a se fazer era ficar em casa e aguardar pelo suporte da polícia especializada, no caso ela, ou de algum herói.
Finalmente chegara no lugar certo, mesmo de longe não havia dúvida de onde era, havia uma cortina espessa de poeira vinda dos destroços de um prédio que acabara de desmoronar. Tomada pelo seu instinto saca as duas espadas das costas e se prepara para o pior, de prontidão observa com cuidado a sua volta, era a única no local e nem sinal do seu parceiro.
Com um movimento de espadas e um pouco de ZEN ela as gira criando um pequeno ciclone de ar direcionado, jogando toda a poeira pro céu e revelando uma cena horrível. O demônio que causou o estrago e foi rastreado pelas runas claramente não estava mais lá, porém sob os escombros haviam dezenas de corpos espalhados.
—RASTREAMENTO ZEN!
E - surpreendentemente - ainda tem alguém vivo naquele terror de pedras. Ela guarda as armas com velocidade e corre até a localização do rastreamento, uma a uma ela retira as pedras, algumas mais pesadas que outras porém sem dificuldade encontra um menino desmaiado, ele está todo sujo de terra e o que parece ser sangue, seu cabelo loiro e longo está impregnado de oleosidade e poeira, mas o garoto não parece ter sofrido nenhum arranhão. Enfim a chuva chega para purificar aquela noite tenebrosa.
***

Capitulo 1 - No divã
—E lá estava eu, olhando para baixo e decidindo se pularia, uma voz a todo momento dizia que eu precisava me jogar, e de fato era o que eu desejava, eu me sentia bem estando ali na beira do abismo, mas estava incompleto, queria ficar com o vento nos meus cabelos quando estivesse em queda livre, então me joguei... —Adriel respira fundo olhando para aquele teto abobadado da biblioteca. —Então acontece o mesmo de sempre, eu acordo.
—E a frequência desses pesadelos, diminuíram ao menos? —Ajeita seus óculos e faz algumas anotações em um bloco de notas. O psicólogo de meia idade usava um cashmere gelo e uma calça jeans escura. Um estilo que combinava com seu pouco cabelo penteado para o lado e um rosto liso sem barba.
Aquela biblioteca era simplesmente grande - imensa - talvez esta fosse a palavra certa para descrevê-la. Todos os cômodos da mansão eram espaçosos; até o menor dos banheiros, que ficava na ala dos empregados, caberia facilmente uma cama de casal lá dentro. Seria preciso um dia inteiro para conhecer todos os cômodos dos dois andares daquela casa, sem contar com sótão, porão, varandas e quintal. Um campo de futebol poderia ser montado no quintal de tão grande que era.
Não que Adriel tivesse conhecido muitas outras casas, na verdade nenhuma.
Ele nunca entrou em outra, senão a sua, mas só de olhar por fora enquanto passeava, sabia que as casas do vilarejo montanha abaixo caberiam pelo menos umas cinco ou 6 delas na mansão que morava.
A biblioteca onde estavam foi adaptada para suas sessões de terapia, pois lá era o lugar mais silencioso da mansão, toda terça-feira religiosamente acontecia seu encontro com Dr. Malaquias, e isso já se estendia por três anos e meio, e se tudo ocorresse bem, hoje seria sua última sessão. Desde o começo ouviu que deveria ser sincero em relação a tudo, sabia que seria mantido segredo, mas no começo teve bastante dificuldade para se adaptar.
Não confiava nesse homem calvo, não entendia por que dizer o que sentia ou pensava iria ajudá-lo a acabar com os pesadelos, ou preencher o vazio que tinha em seu peito, Adriel sentia como se lhe tivessem arrancado um pedaço de sua vida, e de fato, faltava-lhe um pedaço, depois do ataque de Demônio ao prédio que morava, milagrosamente ele foi o único sobrevivente, porém acabou tendo uma grande sequela, perdeu toda a sua memória por conta do trauma ocorrido. Ao menos essa foi a explicação dada pelo psicólogo, e o mesmo disse que o tratamento iria ajudar, mas já se passaram mais de três anos e continuava sem lembrar de nada.
—Sim, tenho tido muito menos pesadelos ultimamente, tem semana que nem tenho ou se tenho acabo não me lembrando depois. —Adriel lembrava bem que quando chegou à mansão os pesadelos aconteciam todos os dias. Acordar gritando e suando frio no meio da madrugada era corriqueiro na sua vida, só os Deuses sabiam o quanto isso era ruim, para ele e para os empregados que dormiam na mansão.
Hoje em dia o menino já se acostumou com as sessões de terapia, na maioria das vezes era a mesma chatice de sempre. Se deitava no divã, e passava 50 minutos contando sobre a sua vida, o que aconteceu durante a semana, o que passou pela sua cabeça de diferente, se ouve alguma novidade, se fugiu de casa mais alguma vez, só a mesma chatice de sempre.
Muitas coisas aconteciam com ele todos os dias; porém na sua visão eram comuns e corriqueiras. Afinal, não possuía nenhum comparativo com o mundo exterior além daquela casa, da montanha ou o pequeno vilarejo lá em baixo. Esses eram os únicos lugares que já conheceu na vida.
Na última sexta-feira, por exemplo: enquanto tentava escalar um pinheiro, viu suas mãos escorregarem por conta da umidade de uma neve recém-derretida que deixava os troncos e galhos escorregadios, e iria desabar de uma altura de quase cinco metros. Lembrou de uma técnica que aprendeu a um ano e a utilizou.
A tal técnica era muito simples e consistia em concentrar seu zen na palma de sua mão; isso daria mais força e rigidez, como se criasse uma camada extra de proteção, o que também aumentaria a aderência, perfeito para escalar ou tentar se segurar em algo. Então, enquanto escorregava, conseguiu utilizar a técnica e se salvou de uma baita queda.
Porém, alguma coisa deu errado.
Talvez as palavras não foram ditas corretamente, ou seu desejo foi fraco, por que das palmas de sua mão saíram chamas negras que incendiaram aquela árvore, em seguida mais uma e depois outra e outra, o fogo se alastrou rapidamente até a chegada de Charles, que conseguiu contê-lo com suas habilidades de água, tinha um córrego ali por perto, o suficiente para virar uma pequena nuvem e fazer chover no local.
Tal magia cansou tanto o mordomo que assim que voltaram para casa durante a tarde, ele foi descansar e acordou somente no dia seguinte. Mas no outro dia fez Adriel escalar mais de 100 arvores usando a mesma técnica só para ele aprender a não cometer esse tipo de erro novamente. Essas e outras coisas eram o que acontecia no dia a dia de Adriel, algumas ele contava, outras não, ele não via a menor necessidade de ficar contando para o psicólogo certas coisas por não julgar importante.
Em alguns momentos raros, o Dr. Malaquias resolvia inovar com suas terapias e vinha com o que ele chamava de dinâmica diferenciada.
Na maioria das vezes Adriel só se sentia mais idiota, definitivamente tentar hipnotizá-lo com um relógio de bolso, ficar brincando com uma massinha de modelar igual uma criancinha de 3 anos ou olhar para manchas pretas em um papel e dizer com o que aquilo se parecia, não tinha como isso servir para alguma coisa.
Preferia muitas das vezes estar lá no quintal treinando um golpe novo, lendo um bom livro de fantasia, incendiando as coisas ou só jogado no sofá da sala comendo besteiras e assistindo tv.
Mas, tanto sua melhora quanto sua entrada na escola Keller dependiam dessas sessões. E essa semana não foi muito diferente, o rapazinho de 12 anos, loiro com seu rabo de cavalo estava ali, deitado no divã e contando sobre seus pensamentos e desejos mais íntimos, tentando ser o mais sincero possível para que toda aquela baboseira ou não, funcionasse.
Contou sobre como se sentia sozinho naquela casa grande, na saudade que tinha de seu avô, já que só o via 3 meses por ano, pois ele só retornava para casa durante as férias escolares. E ainda assim muitas das vezes em que estava em casa, nem parecia que estava lá mesmo, passava trancado em seu escritório ou pesquisando algo na biblioteca. Falou do quanto se sentia mais forte e dos treinos intensivos que fez com Charles, esse que era o mordomo da casa, além de ser segurança e treinador, quando seu avô, o diretor Ambrósio da escola Keller não podia treiná-lo.
O psicólogo parecia se interessar muito pelos treinos do garoto e sempre fazia as mesmas perguntas, por que ele treinava tanto, o que o motivava, o que de fato desejava alcançar com todo esse esforço, e Adriel sempre respondia as mesmas coisas sem entender o porque das perguntas repetidas. Afinal, ele anotava tudo, como podia se esquecer e perguntar as mesmas coisas de novo? Tinha vezes que Adriel se levantava rápido e olhava para o bloco dele só para ver se na verdade o psicólogo não estava fazendo algum desenho bobo, ou de repente preparando uma lista de compras do dia seguinte, mas por incrível que parecesse pro menino, ele estava sim, anotando com seus garranchos incompreensíveis coisas importantes da sessão.
Adriel contava que treinava todos os dias, não importava se chovia, se fazia sol ou nevava. Às vezes seu avô ou Charles, ou até os dois juntos lhe acordavam durante a madrugada para treinar, para correr, para se preparar. No começo não gostava, mas aprendeu que sem a dor dos treinos nunca estaria pronto para quando acontecer novamente. E é claro que o doutor Malaquias queria saber o que poderia acontecer novamente, e obviamente se tratava de um ataque de Demônio, ele precisava estar forte, ser forte, só assim acabaria com todos os demônios que aparecessem na sua frente e quando encontrasse o demônio que matou sua mãe e seu padrasto, acabaria com ele de uma vez por todas realizando enfim sua vingança tão desejada. Mas hoje o senhor caladão das letras ilegíveis, fez três perguntas bem diferentes das habituais.
—Adriel, preciso que me diga três coisas, primeiro... —Pigarreou o homem.—Quais são as suas expectativas para a escola nova? Segundo, quais são os medos que ainda te afligem? E terceiro e último, quais rancores você possui? Respire fundo e busque a resposta dentro de você, quero que seja o mais sincero que puder comigo, essa será uma avaliação muito importante.
—Admito que eu não penso nesse tipo de coisa, talvez na primeira pergunta, já a segunda a resposta é muito obvia, não tenho medo de nada, ou quase nada, se bem que...
Agora ele se senta e se espreguiça, começa a pensar olhando para tudo a sua volta, tentando fugir dos olhos interrogativos do psicólogo, e de alguma forma achava que a resposta podia estar naquelas paredes brancas, nas estantes marrons, no lustre de luzes douradas ou nas lombadas dos milhares de livros expostos nas estantes.
—Expectativas, bom, eu acho que tenho muitas, seria meio complicado descrever, então vamos pular a pergunta e... —Dr. Malaquias o interrompe.
—Não tem problema, mesmo se passarmos alguns minutinhos hoje o importante é terminar minha avaliação, então não se preocupe com a complexidade da resposta, só diga o que sentir de fato.
Adriel tinha algumas dúvidas sobre o que seria essa palavra, complexidade, mas preferiu não perguntar, não queria que o psicólogo achasse que ele era burro e não deixasse ele entrar na escola. Então enfim seguiu o direcionamento.
—Minhas expectativas são muitas, como falei anteriormente; principalmente, eu quero sair daqui, não aguento mais esse clima frio de montanha, sem contar que é longe de tudo, o vilarejo mais próximo fica a uma hora de corrida. Além de que lá em baixo não têm ninguém como eu.—Apontava para baixo em uma direção aleatória, pois não fazia idéia para que direção ficava o vilarejo olhando dali de dentro.
—Hum, o que você quer dizer com pessoas iguais a você? Se refere aos lauens como nós?—Se ajeita na poltrona e se inclina para mais perto do jovem com uma expressão de curiosidade.
—Sim, exatamente isso, lá só tem crianças normais, eles só pensam em brincadeiras bobas, ficam correndo para lá e para cá fingindo que tem poderes como nós e que estão derrotando demônios, como se isso pudesse ser divertido de alguma forma.
—E é senhor Prótil, acredite, brincar de imaginar pode ser muito divertido.
Adriel pensou em repreender o homem por mais uma vez pronunciar seu sobrenome errado, mas agora pensava que talvez ele fizesse de propósito, pois em três anos não teria como não aprender a pronúncia correta, afinal não era difícil falar sem intonar o Ó. Era só dizer Protil e não Prótil.
Mas nesse momento tanto faz e continua a falar sobre suas expectativas enquanto o homem faz suas anotações.
—Essas brincadeiras de faz de conta não são pra mim, eu vivo no mundo real, onde as coisas não são boas, as pessoas morrem, os demônios não tem piedade de ninguém, não pensam, apenas destroem tudo que veem, e fingir que isso não acontece, não tem como, pois eu senti na pele. Lá eu sei que vou encontrar garotos da minha idade que pensam igual a mim e terei com quem conversar.
—Garotas também, já pensou nisso?—O psicólogo abre um sorriso inofensivo como se tentando deixar o menino sem graça. Mas foi ineficaz.
—Já, mas tanto faz ter garotas ou não, o objetivo principal é ir lá e ficar forte, defender aqueles que amo e salvar nosso mundo, além disso, vovô sempre diz que vai ser mais fácil descobrir coisas do meu passado estando entre outros lauens, convivendo com a magia o tempo todo, e pelo que me lembro ele disse que meu pai estudou lá também, gostaria de saber um pouco mais sobre ele.—Tudo que sabia era que seu pai morreu logo que ele nasceu em um acidente na fábrica em que trabalhava.
Ele era algum tipo de historiador e estava revisando alguns arquivos no escritório quando tudo pegou fogo.
—Muito interessante, você tem bons motivos para ir estudar na Kellher, mas sabia que lá é muito rígido? Além de a maioria não conseguir passar para a escola, muitos quando estão lá desistem, eu mesmo não passei e ainda assim sou muito feliz, faço o que amo e ajudo muitas pessoas também.—Dr. Malaquias dá uma olhada rápida em seu relógio de bolso e continua seu raciocínio.—O que pensa sobre o privilégio de entrar na escola sendo convidado? Você será o único a ter esse benefício, já pensou nisso?
—Não, para mim tanto faz entrar de um jeito ou de outro.—Não entendeu o que o psicólogo queria com aquilo.—Agora é o medo né? A segunda pergunta.
—Sim, isso mesmo, me fale dos seus medos agora.—O homem é tomado por um calafrio repentino mesmo estando bem quentinho ali dentro, Adriel acha graça.—Acredito que deva começar a nevar em breve, tenho sexto sentido para essas coisas, sabia garoto?
Não se sabia como estava o tempo lá fora, não havia janelas na biblioteca, apenas um vitral colorido com a imagem de um Deus, um homem forte com asas imensas, era um vitral bem grande lá no alto na parte norte da biblioteca, essas imagens de Deuses estavam por todo lado.
Haviam Deuses nos fundos de pratos de porcelana, bordados em lençóis, no chafariz do vilarejo, e principalmente em obras de artes pela mansão, como estátuas e os quadros; uma dessas imagens tomava quase que toda a parede do escritório do seu avô, era algo lindo e reconfortante de se ver, dois Deuses, um homem e uma mulher totalmente pálidos e sem roupas sentados de costas lado a lado assistindo a um magnífico por do sol de um céu alaranjado com suas asas azuladas se abraçando.
—Sim, eu sabia, você sempre prevê o tempo quando está aqui, queria ter esse dom também, mas sem as tremidinhas engraçadas.—Os dois sorriem.—Agora falando dos meus medos, acredito que não tenho nenhum de fato. Talvez um receio de não estar forte o suficiente quando precisarem de mim, quando estiver cara a cara com a Criatura que matou minha família, receio de não conseguir salvar aqueles que amo, como o vovô, o Charles, os outros empregados e você.—Mentiu quanto a amá-lo, mas queria ganhar pontos com seu terapeuta.
—Muito bom, esse foi mais rápido, e os seus arrependimentos. Quais são?
—Não os tenho. pensando aqui agora, acho que não me arrependo de nada, pelo menos nesses quatro anos que moro aqui, já que todo o resto eu não me lembro, mas com toda certeza, se me lembrasse, eu me arrependeria de não ser forte o suficiente para proteger minha família quando o demônio atacou minha cidade.
—Mas por que esse arrependimento, você só tinha oito anos, como iria protegê-los? Nem se quer você ou sua família sabiam que era um lauen, e mesmo que soubessem não tem como uma criança de oito anos... —frisou bastante a idade do Sr. Adriel Protil. —estar preparado para um ataque de um demônio de rank B. Não é mesmo? —Dr. Malaquias deu uma boa encarada no menino e o mesmo só concordou com a cabeça.

A sessão com o psicólogo enfim terminava, tudo estava correndo bem, as aulas começariam em um mês e Adriel estava muito animado. O Doutor Malaquias passou um bom tempo sozinho na biblioteca refletindo e fazendo anotações após à conversa com Adriel e depois foi até o escritório do seu avô para conversarem a sós, esse era um dos raros momentos que seu avô estava em casa. O menino sabia muito bem do que iriam falar, ele iria dizer ao seu avô o quanto ele evoluiu nesses anos de terapia e aprová-lo para enfim estudar junto aos outros alunos na escola Kellher, daria tudo para ser uma mosquinha só para entrar lá e ouvir a conversa dos dois.
Já impaciente, Adriel andava de um lado a outro de seu quarto, já tinha deitado na cama e se levantado três vezes, e só havia se passado 10minutos que o psicólogo entrou no escritório do seu avô.
Estava decidido, ele teria que ouvir a conversa, não tinha jeito, precisava saber o que era falado lá dentro, essa espera lhe causava uma ansiedade que estava o corroendo por dentro, nesse exato momento ele percebeu uma coisa importante, que pela primeira vez na vida, desejava mais que tudo alguma coisa diferente da vingança habitual que tomava seu coração todos os dias, o que ele mais desejava agora, era entrar nessa escola.
Entendia que era só uma questão de formalidade, mas ainda sim queria muito saber o que o psicólogo iria contar dele, será que falaria do quanto ele se sente sozinho e abandonado as vezes?
Isso com certeza deixaria seu avô triste e chateado, mas não poderia, ele prometeu não contar nada que conversaram, não teria mais jeito, não dava para ficar ali só imaginando, precisava ouvir a conversa de qualquer modo. Sabia que não poderia ser pego, pois iria lhe causar problemas se isso acontecesse, seguiu a risca o que aprendeu em seus treinos para se infiltrar no território inimigo, estava mais para jogos de pique esconde com o Charles, mas gostava de imaginar de outra forma, como sendo uma missão secreta que deveria encontrar seu alvo sem ser visto ou ouvido, e na hora de se esconder precisava ser invisível, esses treinamentos com jogos eram muito eficazes e divertidos na sua opinião. Foi bem difícil e demorado para aprender certas técnicas, mas depois de aprendidas, usar era o mais fácil.
Relaxou sua mente e concentrou seu zen, em menos de um minuto havia conseguido apagar sua presença, seus batimentos cardíacos estavam reduzidos e sua respiração leve, com pés descalços deu passos suaves e macios pelo porcelanato branco que cobria todo o piso da mansão, com o aquecedor ligado, o piso estava igual a temperatura do ambiente, quentinho e aconchegante, diferente do que seria lá fora já que nevava, ele se aproximou da porta lentamente, e por incrível que parecesse ela não estava fechada, somente encostada com uma fresta em aberto, quase como que se estivesse o convidando para espreitar, era uma fresta bem pequenina mas o suficiente para visualizar e ouvir toda a conversa com um pouco de dificuldade pela distância, pois seu escritório era bem amplo e estavam sentados e conversando no final da sala.
—Sim, eu entendo perfeitamente, mas preciso manter o compromisso com a verdade que me propus a fazer desde o início, e isso que estou lhe dizendo é a verdade.—Malaquias explicava com calma e seriedade enquanto tentava pensar em como comeria aquele pião sem perder seu cavalo.
—Você não está me entendendo, longe de mim pedir para mentir, pelo contrário, você não confia em mim?—Tinha sido uma pergunta retórica do diretor, com uma olhada rápida ao tabuleiro ele faz uma jogada igualmente ligeira e usa o movimento roque, troca de lugar sua torre com seu rei e depois abri um sorriso malicioso.—Quem foi que conseguiu para você essa vaga de psicólogo a 25 anos atrás? Só peço que me dê mais um voto de confiança, somente isso.
—Isso está ficando mais complicado do que imaginei.—estava se referindo tanto a avaliação do menino quanto a partida de xadrez, essa última jogada do Sr. Ambrósio havia pego ele de calça arriada.
Agora tentava visualizar uma saída, pois se encontrava em cheque por conta de uma torre e se saísse para a esquerda ficaria na direção do bispo, estava quase sem jogadas.
—Eu sou muito grato ao senhor diretor, mas entenda que seu neto é completamente instável, esse trauma psicológico que ele adquiriu após o ataque de demônios é completamente compreensível, mas nesses três anos e meio de terapia, ele mal evoluiu, continua sedento por vingança, isso não é normal para sua idade, na verdade não é normal para ninguém, mas se agrava se tratando de um garoto de 12 anos.—Faz uma jogada meio displicente recuando seu rei e sacrificando seu cavalo.
Adriel se controlou o máximo que pode quando seu coração ameaçou disparar, sabia que se isso acontecesse, certamente seria notado, afinal se tratava de seu avô, o grande diretor Ambrósio da escola Kellher, mundialmente famoso, aquele ali parecia ter olhos até nas costas.
Mas era uma tarefa muito difícil, sua respiração tentava sair com tudo de seus pulmões depois dessa notícia, e ele que achou que tinha feito grandes avanços nesses anos, Malaquias mentiroso, queria entrar lá e falar poucas e boas na sua cara, na verdade queria fazer coisas bem piores que isso, mas isso só provaria o quanto instável ele era e que o psicólogo teria razão.
—Não é para tanto, deveria ver os alunos que são aprovados todos os anos lá, problemas psicológicos são o de menos, rancor e vingança não são nada perto daqueles moleques. Mas ainda sim são aprovados, sabe por que?—Não esperou que o homem respondesse, apenas comeu o cavalo com o bispo mantendo o cheque e continuou seu raciocínio.—Por que o meu trabalho lá, é lapidar, não importa a carga que os alunos carreguem, eu, junto com meu corpo docente a aliviamos, pois enxergamos o potencial dos alunos, e o Adriel é um dos garotos com mais potencial que eu já vi, eu na idade dele não tinha metade do seu poder, imagine amanhã, com o treinamento e conhecimento certo, aonde que ele pode chegar?
O orgulho tomou conta do peito de Adriel, seu avô nunca lhe falara aquelas coisas, ao menos, não dessa forma, não sabia que ele sentia tudo isso, era muito bom ouvir aquelas palavras, agora não teria como Malaquias se esquivar, imaginou o menino.
—Eu compreendo perfeitamente diretor, mas meu trabalho aqui, não é avaliar seu poder, e sim, se ele está pronto para conviver em sociedade.—Faz uma pausa e olha para o seu jogo, não encontra uma saída e bebe uma boa golada de um liquido vermelho borbulhento, que estava em um copo de whisky sobre a mesa de carvalho envernizada do diretor, onde o tabuleiro de cerâmica listrada também estava, não faz sua jogada ainda.—Como falei, ele é bem instável, e nós dois sabemos o quanto a situação dele é delicada por conta do seu poder, além disso, pelas sessões constatei seu problema quanto a receber ordens e respeitar autoridades, em uma escola rígida como a Kellher se orgulha de ser, acredito veemente que ele não vai se adaptar, mas isso não quer dizer que será para sempre, só peço para adiar mais um ano. Nesse pouco tempo extra tenho certeza que...
Adriel havia chegado no seu limite, ouvir aquilo tudo foi muito revoltante, como ousar dizer que ele precisava adiar mais um ano, estudou todo aquele tempo em casa longe de todos, só se preparando para essa oportunidade, ele não ficaria naquela casa nem mais um minuto, aquelas palavras do falso Malaquias foram o suficiente para Adriel explodir, não importava mais se seus batimentos agora estavam a mais de 100 por minuto, ou se sua respiração era ofegante de nervoso, dani-se se perceberiam ele, fez questão de abrir a porta só para batê-la com força em seguida causando um estrondo.
Sem pensar em mais nada, antes que fosse repreendido por sua atitude infantil, correu pela mansão, cruzou os corredores, atravessou a biblioteca de ponta a ponta para cortar caminho e sair na sala de estar,
viu Charles na sala sentado a mesa conversando com a governanta, os dois o fitaram sem dizer nada em quanto ele passava como uma flecha pela porta de entrada. Só bem mais a frente quando cruzou todo o quintal e entrou na mata fechada que seu sangue esfriou e percebeu o quanto seus pés congelavam, nevava devagar, mas ainda sim fazia muito frio para aquela tarde, principalmente para um jovem de camiseta e bermuda dos pés descalços.
Mesmo assim isso não o desmotivou a continuar, com um simples sinal de mão e uma única palavra, usou uma magia comum.
—Zen!
A magia que aprendeu quando ainda tinha oito anos, uns seis meses após chegar a mansão. Envolveu seu corpo em um zen negro, era uma fina e singela camada de energia escura que contornava cada centímetro do seu corpo.
Essa magia era o início de tudo, a base para qualquer outra, você poderia invocar outras magias sem usá-la, mas não sem sabê-la, e usá-la significava intensificar o poder de todas as outras, também era uma forma de medir seu poder, quanto mais forte você fosse, mais energia despertaria a sua volta.
Além do que, querer usar uma magia qualquer sem saber usar essa, era o mesmo que fazer um bolo sem saber quebrar os ovos, ou dirigir um carro sem saber como que faz para ligá-lo.
Esse poder que agora corria no contorno de seu corpo, ele não impedia o frio, mas o ajudava a resistir um pouco. O menino já havia desacelerado e agora caminhava calmamente por entre a vegetação, diria que ele estaria sem rumo, mas sabia exatamente para onde queria ir, havia um tipo de recanto secreto, que não era tão secreto assim, mas era isolado e gostava de ir até lá nesses momentos para pensar sem ninguém lhe incomodar.
Enquanto caminhava com cautela para não machucar seus pés em qualquer coisa que pudesse estar escondida sobre a fina camada de neve, ele começava a por seus pensamentos em ordem. Sabia que não tinha fugido de casa obviamente, só tinha doze anos e não tinha para onde ir, nada para comer e nem um tênis para calçar, se fosse fugir mesmo, ao menos voltaria escondido a noite para pegar roupa e comida.
"Mas eu iria fugir para onde e fugir por que exatamente? Só por que esse psicólogo é um mentiroso enganador e idiota? Sim, muito provavelmente seria por isso mesmo, como ele pode ter dado a entender que estava tudo bem, que eu tinha evoluído? Que cara mais falso, achei que estava ali para me ajudar, e não para me atrasar."
—Não está pronto para conviver em sociedade uma ova, vou mostrar para ele quem não está pronto quando amassar aquela cara de nerd.—Falava sozinho e alto sem se preocupar com quem pudesse ouvir naquela floresta silenciosa.
Logo todo esse silêncio foi sendo cortado por um som que ia aumentando gradativamente com forme se aproximava, era um som alto de água caindo com força.
Sabia que estava quase lá, adentrou ainda mais na mata, tirando arbustos, galhos e cipós da sua frente, chegou aonde queria, estava de frente para uma belíssima cachoeira intocada pelo homem. Ela ficava dentro do território que Adriel acreditava que seu avô era dono, nunca parou para pensar até onde era o limite de suas terras, gostava de imaginar que toda aquela montanha era dele, e sua também, afinal era seu neto, mesmo não sendo de sangue,
outra coisa que nunca o incomodou.
Não era uma cachoeira grande, deveria ter uns nove metros apenas de altura, muitas e muitas vezes Adriel já saltou lá do alto das pedras nas águas cristalinas e esverdeadas que ali estavam.
Mas não era o caso agora, não chegou a sentir, mas se o ar estava frio, nem queria imaginar o quão gelado estaria aquela água. A cachoeira formava um lindo e pequeno laguinho bem fundo, mas que enganaria os desavisados, pois olhando de cima, parecia até dar pé.
Adriel se sentou em uma pedra úmida nos arredores do lago e pôs suas mãos a cabeça, ele estava em um lugar lindo sim, mas tudo continuava uma droga, aquele lugar não resolveria seus problemas, precisava pensar no que fazer, não queria voltar para casa, não tão cedo, e com certeza não aguentaria ficar mais um ano naquela mansão, precisava ver outras pessoas, gente da sua idade. O motivo de treinar tanto, é claro, era para enfrentar demônios, o que havia feito uma única vez, em um passeio para a pequena e pacata cidade ali de baixo durante um festival, um demônio apareceu do nada causando muito estrago. Mas foi só um pequeno teste, o demônio era fraco, mas não para os mais fracos ainda humanos, ele havia matado duas pessoas e um cachorro antes de Adriel acabar com ele. Nem gostava de se lembrar disso, foi a primeira vez que viu alguém morrer bem na sua frente, naquele momento tudo havia perdido seu valor, em pensar que a vida pode se esvair assim a qualquer momento, se aqueles humanos fossem lauens e estivessem preparados, eles não teriam morrido, não deixaria sua vida ir embora como eles, estaria preparado para tudo, mas não naquela mansão, treinou tanto, precisava testar seus poderes nos outros garotos igualmente poderosos que eram aceitos todo ano naquela maldita escola que não o queria pelo visto. Se o que seu avô fala é verdade, ele chegaria sendo o mais forte, nossa, todos iriam bajular e querer ser seu amigo, as meninas iriam viver atrás dele e seria tratado como rei, um monte de nerds iriam se oferecer para fazer seus trabalhos de casa, já conseguia visualizar a vida perfeita que levaria na escola Kellher, e tudo agora destruido pelo doutor Malaquias.
Ele se levanta e faz seu zen inflar com sua raiva, em frações de segundos a energia negra a sua volta dava estalos chicoteando o ar, desperta o máximo de poder que consegue e se prepara fazendo alguns sinais rápidos de mão.
—Bola de fogo.
Uma pequena bola de fogo que mais parecia um melão em chamas é lançada com tudo na água, somente para virar fumaça e espirrar água para todo lado com um som alto, fazendo vários pássaros que estavam empoleirados por lá se assustarem e irem se empoleirar em um lugar sem garotos revoltados para atrapalhar seu descanso.
Ainda sentia que estava cheio de energia e queria botar sua raiva para fora, não conseguia pensar em como resolver seu problema, então ao menos, iria esbravejar. Deu um grito o mais alto que pode e lançou mais uma vez uma magia nas águas calmas da cachoeira, ainda bem que ela não podia revidar.
—Rajada de vento.
O objetivo da magia era criar um cilclone fazendo um redemoinho na água. Mas saiu algo tão fraco e medíocre, que se ele com suas próprias mãos girasse a água seria a mesma coisa. Resumindo, nada, sua magia não surtiu efeito algum.
Sabia definitivamente que seu elemento não era o ar, dos quatro elementos era o que tinha mais dificuldade, as de água também eram bem fracas e as de terra eram do mesmo nível que as magias de fogo, mas ainda achava que eram magias bem fracas. Quando Charles queria demonstrar alguma magia, qualquer elemento que usava saia pelo menos umas dez vezes mais forte do que qualquer um dele.
O zen a sua volta se discipou quando esqueceu de mantê-lo e logo o frio corroeu seus ossos, parecia ter esfriado ainda mais, tremia muito e não conseguia se concentrar para usar a magia de novo.
Pensou em voltar nesse momento, mas não podia dar o braço a torcer, mas ficou surpreso quando viu seu avô entrando com dificuldades, passando por aquela trilha natural escondida pela neve que dava acesso a cachoeira.
Chegou limpando uma cartola preta e tirando as folhas que cairam nela, sem a cartola, sua careca que parecia lustrada ficava desprotegida da neve, mesmo para um homem de bastante idade, ele aparentava muito pouca, Adriel não sabia ao certo quantos anos ele tinha, só que já passou dos 200. E mesmo assim tinha uma pele quase tão lisa quanto a de um adulto qualquer e uma disposição de invejar, Ambrósio tinha quase a mesma altura do menino de tão baixinho que era, mas ainda sim o passava por um palmo.
Usava um casaco de pele de urso pardo que o cobria dos pés a cabeça, enquanto Adriel ali passava frio, mas para novamente sua surpresa, o diretor tira um casaco menor que estava enrolado dentro do próprio casaco para protegê-lo da neve e entrega ao menino. Era um moleton verde qualquer, mas que o salvou do frio de imediato, nem tanto na verdade, suas canelas finas de fora tremiam sem parar, e seus cabelos estavam cheios de neve, mas agora mais aquecido, pode se concentrar e usar novamente a magia zen.
—Vamos, volte já para dentro, essa foi a educação que lhe dei? Tantos anos te ensinando boas maneiras e você age dessa forma na frente dos outros? Assim é impossível anteceder por você garoto.—estava claramente bravo.
—Eu ouvi a conversa, ele quer que eu fique mais um ano estudando em casa, não é justo, você me prometeu, NÃO É JUSTO, NÃO É.—tinha tanta coisa para falar para seu avô, mas as palavras simplesmente não vinham, então só sabia gritar que não era justo.
—À vida não é justa, se fosse seus pais estariam vivos, meus filhos e netos estariam vivos, mas as coisas não acontecem só por que queremos que aconteça, você tem que aprender a lidar com notícias ruins também. E aprender a confiar mais em mim. Como você disse, eu te prometi não foi?—Ele falava bem rígido mas sem alterar seu tom de voz.
—Eu sei, mas é que...
—Eu ainda não terminei de falar, então seja educado e preste bem atenção, alguma coisa até hoje que te prometi eu não cumpri?
Adriel achou que era uma pergunta retórica, e mesmo que não fosse, não sabia se deveria responder já que era para ficar calado, então na dúvida só concordou com a cabeça. Mas sua vontade era de gritar mais e mais.
—Exatamente, por isso eu te digo mais uma vez Adriel, eu te preparei sim para ir para escola esse ano comigo, e o trabalho do psicólogo não é somente avaliar se eu fiz um bom trabalho com você, eu tenho certeza que fiz, contei com a ajuda do Charles que é um ótimo professor e perito em magias de combate, mas também dependo de você.
"Em pensar que demorei mais de um ano para perceber que o Charles não era só um mordomo, achava que me ajudava nos treinos so para quebrar um galho e por que éramos amigos. O que nunca entendeu, é como alguém forte como ele virou um professor e uma babá de um garoto de quase nove anos, e ainda ficou até hoje.
Talvez gostasse mesmo de mim."
—Você sempre disse que eu era mais forte que qualquer um da minha idade, mesmo assim esse velho pode me impedir de estudar lá?
—Tenha boas maneiras, na escola não será permitido esse tipo de palavreado, se faltar com respeito com algum professor ou funcionário da escola, vai ter punições severas, e não pense que eu vou facilitar as coisas por ser seu avô. Sim, ele pode, o Conselho Lauen o escolheu para cuidar de você e decidir se está apto para sair da mansão.
—Como assim? Eu não sou livre para ir aonde eu quiser? Quem eles são para decidir as coisas por mim?
—Claro que é, você não foi várias vezes para a cidade? Esqueça isso, se você quer que eu faça você entrar na escola, precisa me provar seu valor, você está pronto?
—Estou.
—Mergulhe nesse lago. Não tenha pressa para se preparar psicologi...
Adriel já tinha tirado o casaco e corria para saltar, ele pega impulso e se joga, mas começa a voar, ao menos achou que estava voando até perceber que seu corpo estava levitando no ar a poucos centímetro da água sendo controlado pelo seu avô que estendia uma das mãos.
Ambrósio trouxe ele de volta e o colocou no chão, o garoto vestiu seu moleton enquanto ele desembaçava os seus óculos.
—Você tem problemas, sabia Adriel, não deixou nem eu terminar de falar, ia dizer que era só uma brincadeira.
Adriel sabia que não era, era mais um dos testes que ele passava, nesses anos já estava ficando craque em decifrar seu avô, ao menos pensava isso.
—Sente ai, vou te contar uma história menino. —Ele se sentou em uma pedra e fez sinal para Adriel se sentar em outra bem a sua frente.—É a história dos três camponeses e o demônio do Ar.
Era uma vez três amigos de infância, eles eram vizinhos em um pequeno e pacato vilarejo feliz e alegre, lá em um lugar distante e esquecido do mundo. Todos os três se conheciam desde sempre; nesse pequeno lugar, havia só eles de crianças, então não tinham outras opções para fazerem amigos. Eram muito grudados desde muito pequenos, viviam revezando a casa que quem dormiriam, pois eram inseparáveis.
Isso permaneceu na sua adolescência. Fizeram um pacto de amizade, onde prometeram um ao outro não deixar que nada interferisse no que eles tinham, seriam amigos para todo sempre. Aos poucos, a cidade foi crescendo graças a guerra que ia aumentando, alguns refugiados encontravam aquele lugar durante suas andanças. Em menos de um ano, a cidadezinha havia triplicado de tamanho.
Os três continuavam unidos, brigavam juntos quando um deles se metia em confusão, sofriam juntos quando um outro se apaixonava e até trabalhavam juntos em uma vendinha.
Muitos problemas surgiram e mesmo assim eles continuaram unidos. A cidade maior trazia os problemas de seus habitantes, cada um com seu peso no coração de familiares perdidos durante a guerra. Aos poucos ela foi perdendo a sua identidade, a típica alegria de cidade pequena que ela sempre teve estava indo embora, dando lugar a moradores rancorosos que odiavam a vida que levavam.
Mas tudo iria mudar no final daquele ano. Uma jovem muito bonita havia chegado à cidade com seus pais, ela era simplesmente linda; além de simpática e muito divertida, ela conquistou o coração daqueles moradores com seu jeito extrovertido de levar a vida sempre com otimismo e alegria. Contagiando a todos naquele lugar, a cidade foi renovando sua luz, não tinha quem não gostasse desta jovem. Inclusive os três amigos inseparáveis desta história.
—Eles vão brigar por ela não é?—Adriel tentava sempre adivinhar o final das histórias de seu avô. Mesmo sabendo que interrompê-lo o deixava muito irritado.
Ambrósio Protil fez um sinal de silêncio com seu indicador na frente de sua boca e continuou sua história, mas não sem antes olhar feio para o menino. Queria terminar aquela conversa antes do sol se pôr.
Os três rapazes agora eram homens feitos, tinham acabado de fazer 18 anos.
Eles se apaixonaram pela jovem encantadora, foi ai que começaram os problemas. Cada um tentava conquistar o coração dela de alguma forma diferente, seja com poesias, músicas e presentes, não faltavam galanteios para conquistar o coração da moça. E isso causou uma rivalidade entre os três. Essa rivalidade só foi aumentando e afastando eles. Parece que tinham se esquecido de seus pactos de amizade, e entraram em uma competição por ela. A moça indecisa, disse que se casaria com aquele que construísse a melhor casa.
Logo começaram a trabalhar, o primeiro que se julgava mais esperto dos três, construiu uma casa com paredes e tetos feitos de palha, mas era uma casa linda e espaçosa, já os outros, um preferiu uma casa de madeira e o outro uma de tijolos, o primeiro acabou muito antes e a moça começou a viver na casa dele. Porém o segundo não se deu por vencido e construiu uma casa igualmente bonita e ainda maior que a de palha, porém toda de madeira, a pintou e a deixou do jeito que ele queria.
Então a moça logo mudou de lar e foi morar com o segundo rapaz.
O terceiro demorou o dobro do tempo do segundo e seis vezes mais tempo que o primeiro, mas enfim, terminou sua bela casa de tijolos, mais bonita e maior que todas as outras, fazendo assim a moça ficar com ele de vez.
—Que mulher interesseira não é? Por isso que o senhor construiu uma casa tão grande não foi vovô?—Adriel não se conteve e riu sozinho, mas logo percebeu que seu avô continuava sério, então com um pouco de esforço controlou seu riso deixando o senhor Ambrósio continuar a história.
Não demorou muito, e a guerra também chegou naquela cidade escondida do campo. Um demônio chegou causando muita destruição, e se aproximava da casa dos três, mas parou durante a noite para descansar.
No outro dia, logo de manhã cedo, o demônio foi até a primeira casa e mandou o homem sair, mas o mesmo se negou e então com seus poderes do vento ele destruiu a casa invocando um vendaval. O homem da casa de palha conseguiu fugir pelos fundos correndo o máximo que pode, e encontrou seu amigo, o da casa de madeira, tentou lhe contar a história, mas antes que terminasse, o demônio já havia chegado.
Fez as mesmas ameaças, mas o segundo, seguro de seu bom trabalho na casa não as atendeu. O demônio mais uma vez invocou o vendaval e a destruiu, mas antes eles conseguiram sair pela janela.
Foram até a casa de seu amigo, dono da casa de tijolos, mas ninguém atendeu a porta, o demônio se aproximava e eles gritando para conseguir entrar. As luzes estavam acesas e saia fumaça da chaminé, mas ninguém atendeu a porta, não tinham mais para onde ir e tentaram forçar a porta, mas não conseguiram e foram pegos pelo demônio do ar.
—Pronto, agora o acordo está cumprido não é?—Falou o terceiro por de trás da porta para o demônio que agora tinha os seus amigos desacordados um em cada braço.
—Sim, já estou com sua esposa e seus amigos, por isso, vou poupar a sua vida e ter misericórdia.—Então o demônio foi andando.
Enquanto o homem lá dentro respirava aliviado, o demônio parou e olhou para trás.
—Preciso lhe confessar uma coisa, você deve ter tido um trabalhão nessa sua casa, eu mesmo não seria capaz de derrubá-la de forma alguma.—E com uma gargalhada sinistra o demônio do ar foi em bora cruzando o horizonte e levando todos aqueles que o homem amava, para nunca mais voltar.
O sol começava a se esconder dando início a pequenos e distantes brilhos de estrelas no céu, que lá estavam para contemplar a chegada da majestosa lua.
Essa noite, seria uma noite de lua cheia.
—Mesmo o terceiro homem construindo a melhor casa e conquistando o coração da donzela, ele ainda sucumbiu à covardia, e com todo seu medo de morrer, foi capaz de vender sua esposa e seus amigos. Ele não acreditou no potencial que tinha.—Ambrósio agora se levantava e olhava à sua volta.
—Que história mais macabra vovô, tinha nada melhor para me contar não?—O menino agora suspirava fundo e se tremia com um calafrio que sentia graças a uma brisa gelada, a noite estava esfriando, e mesmo sua camada de zen e seu moletom não eram suficientes.
—A vida é desse jeito, temos que encará-la de frente, Adriel. E não correr pela porta sempre que recebermos uma notícia ruim.
Adriel percebeu na mesma hora a indireta, mas antes que o menino indagasse ele continuou.
—Você é muito corajoso e leal, além de acreditar no seu potencial e nunca desistir, só os Deuses sabem o quanto sua teimosia me deixa louco. Mas está decidido, eu não sou o Diretor da maior escola de Combate ao Sobrenatural do mundo por acaso. Tenho os meus contatos e sei que você está pronto, não me decepcione, seja leal a mim como sou a você garoto. Agora vamos para casa, você têm algumas malas para fazer, partimos em menos de uma semana.

Capítulo 3 - A Viagem
Um dia muito quente, capaz de secar rios e mares, ao menos foi o que Adriel pensou ao olhar para o céu sem nuvens, ele não parava de resmungar durante o caminho até o porto.
Eles haviam acabado de saltar de uma viagem rápida, ou melhor, diria instantânea, viajando 40km em um segundo pelo Totem de Murazir. Saltaram dentro de uma sala vazia do Hotel de um amigo do Diretor Ambrósio, ele ficava bem próximo ao porto, e o dono permitia que os hóspedes usassem essa passagem, e abria uma exceção para o diretor pela sua amizade. Eles podiam sim saltar em um lugar público, não estavam se escondendo de ninguém, mas o lugar mais próximo ficava duas quadras para trás, e para os não Lauens já era comum ver pessoas surgindo do nada saindo de algum beco por exemplo, a magia era conhecida entre todos e compartilhada, mas no caso de viajar atravéz dos totens era impossível para os nascidos sem a "magia", pois não tinham como controlar o seu zen.
Cumprimentam o dono e os funcionários na recepção do hotel e saem pela porta da frente, é ali que começa todo o calor do inferno.
Na região onde Adriel morava, no dia mais quente, ainda sim parecia fazer um pouco de frio, o clima da montanha era sempre baixo, e como Adriel nunca saiu de lá, somente para a cidade logo abaixo, que também compartilhava do clima montanhes por ser uma cidade serrana, era de se imaginar que não iria se adaptar tão fácil a um clima mais quente, o do nível do mar.
Era um sol de rachar, nenhuma arvore ou nuvem para fazer sombra pelo caminho, mas seria uma caminhada curta, somente 10 minutos, que pareceram uma longa e interminável maratona. Já transpirando, os dois chegam na entrada do porto, andam mais um pouco e pronto, já conseguem visualizar o navio.
E que navio, era grandioso, não somente pelo seu tamanho, mas também pela beleza, aquele de fato era um navio Transcontinental, já tinha ouvido histórias sobre ele contadas pelo seu avô, até viu algumas fotos, mas pessoalmente parecia muito maior. Tinha muita gente por ali, eram centenas e centenas de pessoas se despedindo de seus filhos, amigos, netos, etc. Além de muitos trabalhadores rondando todo o lugar.
Eles abrem espaço pela multidão e vão até a rampa que leva ao navio, mas não sem antes parar a cada passo para cumprimentar alguém que chamava seu avô, afinal todos conheciam o diretor Ambrósio e faziam questão de apertar sua mão e fazer algum pedido sobre seus filhos queridos.
Um homem vestido de azul e branco com um uniforme característico de marinheiro estava comandando a fila e recebendo os bilhetes antes de subirem a rampa. Sua vez chega bem rápido, e ao contrário das outras crianças que entram em quanto seus pais ficam alí no porto, ele sobe junto de seu avô. Percorrem por um corredor ainda a céu aberto beirando o convés e entram por uma pequena portinha lateral azul com uma maçaneta dourada, seu avô sabia o caminho muito bem.
Assim que abrem aquela porta, o vento gelado do ar condicionado entra em contraste com o corpo quente dos dois e o alívio é quase imediato. Os dois respiram fundo e se entre olham, não precisava ser um Lauen para ler a mente um do outro nesse momento. Seguem por um corredor estreito e bem iluminado e saem numa sala bem ampla, um tipo de hall com um pequeno bar, sofás, um grande Lustre e uma escada bem grande para o andar de baixo. Lá ao lado da escada estava quem era claramente a Capitã daquele Navio, recepcionando e cumprimentando todos que passavam por ela, que vieram de algumas outras entradas.
—Capitã Lemos, quanto tempo, já conhecia meu neto?
—Nunca tive o prazer, seja bem vindo ao Estrela da Noite meu jovem, qual o seu nome?— Era uma senhora de meia idade, magra e alta com um nariz bem fino, segurava seu Cape ao lado do corpo liberando seus cabelos curtos e grisalhos, enquanto se apoiava no corrimão dourado da escada. Suas vestes eram engomadas e cheias de medalinhas de condecorações. Tinha um sorriso acolhedor.
—Adriel Protil, o prazer é meu. Muito bonito o seu navio.— Não mentiu, estava mesmo deslumbrado com o pouco que viu.
Não demora muito para seu avô o enchota-lo, disse que precisava falar com a capitã a sós e mandou ele ir andando, a senhora Lemos deu algumas instruções do caminho que ele deveria fazer até os alojamentos e pediu para um dos marinheiros que passava na hora ficar com sua bagagem, pois ela seria entregue quando chegassem a escola.
Adriel assim o faz e desce as escadas, se já era bonito lá em cima, alí embaixo conseguia superar, aquilo alí mais parecia um hotel 5 estrelas, tinha gente para todo lado andando pelos corredores, muitas das pessoas não iam para o colégio, pelo que seu avô informou, o Navio não era exclusivo da escola Kellher, alguns iam para a mesma ilha, outros iam para uma outra logo após ou outro continente, mas a primeira parada que aconteceria em 6 horas seria na Kellher. Ele até tenta fazer o caminho descrito pela capitã, mas ao ver um salão enorme com uma mesa igualmente grande de bufê, ficou tão tentado que resolveu entrar. Assim que entrou percebeu que era o único jovem dali, mas isso não o impediu, sua barriga roncava e o cheiro de pão quente e fresco o atraíram como uma lebre ferida na mata atraí uma serpente faminta.
—O que pensa que está fazendo garoto?
Adriel ouviu alguém chamar e logo se virou, não levou nem um segundo para reconhecer quem era.
—Draber, não sabia que estava no barco, está indo para a escola também? Você é algum professor lá por acaso?— o garoto esticou uma das mãos para apertar a mão de Draber que logo retribuiu.
—Tá maluco, nem pagando, não nasci para ficar preso, prefiro enfrentar 100 demônios do que dar aulas para pirralhos iguais a você Adriel, imagina passar o dia todo dando aulas. Nem pensar.— Draber falou em tom de zombaria, ele era o único "mal vestido" dali, com seu jeans rasgado, cabelo Verde espetado e uma camisa colada, claramente estava se sobressaindo, a sua volta só se via pessoas de terno ou social e cabelos de cores "normais". —Mas você se perdeu ou o que Adriel? Não ia roubar comida não é? A sua será entregue nos alojamentos, então vá andando. Xô, xispa daqui.
Adriel foi embora rindo, gostava e admirava muito o Draber, o conhecia bem, pois várias vezes ele foi até a sua casa conversar com o diretor, seu avô era muito influente, mas nunca entendeu por que era o único dos 7 que ia até lá, talvez fosse um porta voz do grupo, tudo que mais queria era ser alguém como ele, alguém que faz o que quer, anda como quer, e é super poderoso. Ele é um dos 7 lendários, considerado o terceiro Lauen mais forte do mundo. A elite da elite, os Lauens que são chamados quando realmente o bixo tá pegando, os responsáveis por eliminar inimigos de rank A+, quem poderia dar ordens para alguém como ele, alguém capaz de acabar com um exército de demônios sozinho. Esse era Draber, ao menos era o que diziam as histórias, e, ou, a imaginação do Adriel.
Agora no caminho certo, rapidamente encontra um corredor de alojamentos, umas dez portas no mínimo, cinco de cada lado, agora começaria sua jornada, ao abrir uma das portas estaria fazendo novos amigos como sempre quiz, iria mostrar o quanto legal ele era, e forte também quando tivesse a chance, esse sentimento conflitava dentro dele, sempre foi o garoto que não ligava para o que os outros pensam, que faz o que acha melhor sem tentar agradar ninguém, mas agora era diferente, estava tão desesperado para fazer amigos, garotos e garotas Lauens, assim como ele, que iria se esforçar o máximo para ser alguém muito gentil e simpático, não que fosse precisar, todos gostariam do jeito dele, Charles, seu avô e os funcionários da mansão adoravam ele.
Não tinha como ser diferente agora, respira fundo e abre a primeira porta que vê pela frente.
Assim que abre a porta todos os olhares se voltam para ele, isso faz seu coração acelerar por um segundo antes de se acalmar. Tinham dois meninos sentados em um sofá e uma menina no outro, a sala era modesta, apenas dois sofás com uma mesa de centro na frente, alguns armários de parede acima dos sofás e duas beliches na ponta do quarto, uma de cada lado com uma janela grande e redonda no meio delas.
—Vai ficar parado aí na porta para sempre? Entra logo. Eu me chamo Janete, esse é o Pedro e aquele ali o Rick. —Janete usava uma jaqueta preta, blusa branca e calça jeans, todos estavam de calça jeans, inclusive o próprio Adriel.
Adriel entra, se apresenta, cumprimenta a todos com um aperto de mão e se senta ao lado dela, mas com um bom espaço entre eles no sofá, o sofá era muito confortável e todo o lugar cheirava a alguma coisa agradável que remetia a algum tipo de flor, talvez fosse o perfume da menina. Mas ele com certeza não iria perguntar.
—Estávamos contando histórias dos testes, você teve dificuldade no seu? O meu foi moleza, o escrito eu errei só duas questões e na prática eu fui o melhor de todos.— Pedro usa uma blusa clara sem estampas e têm um cabelo todo enrolado.
—Como sabe que foi o melhor? Não divulgaram as notas, só disseram quem passou ou não.—Rick pergunta com seu cabelo todo estiloso e sua blusa listrada.
—Duvido, ninguém ganha do irmão do Senshi.— Janete sorridente falava com seu jeito snob.
Rick dá uma olhada feia para Janete, claramente ele não gostou de ser chamado de irmão do Senshi, Adriel reconheceu na hora o nome, sabia muito bem quem era esse tal de Senshi, se Draber era forte, Senshi era ainda mais, esse era considerado o prodígio dos Lauens, o top 1 do rank, quem diria que o irmão dele iria estudar no mesmo ano que ele, tá aí alguém que gostaria de ser amigo.
—Mas e você, acha que foi bem ou passou raspando? Qual parte do teste teve mais dificuldade?— Pedro insiste na pergunta para Adriel.
—Eu não fiz teste algum, meu avô é o diretor. Então apenas entrei.— Adriel falou sem rodeios e com naturalidade, usava um rabo de cavalo, seu cabelo loiro parecia a cada dia mais longo.
—E você fala isso com a cara mais lavada é?— Janete o repreendia, enquanto Adriel apenas dava de ombro sem entender direito.
—Eu no seu lugar teria vergonha de falar isso para gente.—Pedro também o repreende em quanto Rick apenas balança a cabeça mostrando decepção.
—Não estou entendendo, o que tem de mais nisso por acaso? —Adriel estava confuso e agora se lembrava vagamente do seu psicólogo ter comentando algo sobre isso, mas não lembrava o que.
—Deixa eu te explicar então, Adriel não é?—Rick era quem pergunta agora, Adriel só mexe a cabeça.
—Todos nós que estamos aqui nesse barco, bom, nem todos pelo visto, passamos para essa escola, por que somos bons, somos melhores do que muitos outros que tentaram e não conseguiram, foi por que treinamos duro. —Rick faz uma pausa para respirar enquanto seu amigo o interrompe.
—Eu mesmo treinei três vezes na semana, uma hora por dia durante dois anos, eu sim mereço estar aqui.— Pedro se gabava.
Adriel achava aquilo tudo uma besteira, também merecia estar alí, ele mesmo treinou todos os dias nos últimos quatro anos, e não era uma horinha como esse garoto idiota falava, eram horas e horas, as vezes duas vezes, três vezes no mesmo dia, seu avô e Charles sabiam pegar pesado com ele.
—Exatamente, e continuando— pigarreou Rick. —Conquistamos nossa vaga nessa escola através do nosso suor e trabalho duro, não entramos só por que somos filhos, sobrinhos ou netos de alguém importante como você. —Adriel ameaça interromper mas ele levanta a voz e continua a falar. —Se fosse por isso, eu por ser irmão do Senshi entraria assim igual você, a Janete aqui, é filha do prefeito da cidade dos príncipes no sul, e tivemos que fazer prova igual todo mundo. Isso só prova que você deve ser um fracote.
—Vamos lá fora então para eu te mostrar quem é o fracote. Estou nem aí quem é seu irmão.—Disse Adriel enfurecido.
—Não seja burro, você ainda quer arrumar briga, tirou o lugar de alguém que de fato merecia entrar e quer ser expulso?—Completa Janete.
Adriel já estava revoltado, mas ela podia ter razão, brigou tanto para chegar alí, melhor evitar agora.
—Eu mereço tanto quanto vocês estar aqui, também treinei duro, também sou forte, parem de falar merda. —Adriel se levanta e vai até a porta.
—Se você é forte mesmo, por que seu avô não botou você para fazer um teste igual todos nós?— Pergunta Rick.
Mas quem responde é Pedro:
—Deixa que eu digo. Foi por que o Diretor Ambrosio devia saber que ele não teria como passar, por isso o botou para dentro de uma vez, sem prova e sem nada. Passando assim a frente de quem merecia, um amigo meu mesmo não foi aprovado, e agora sei quem tirou a vaga dele.
—Querem saber? Vão todos a merda, vocês não sabem do que estão falando, seus idiotas.— Adriel bate a porta com força antes de sair.
Mas enquanto saia ainda ouviu Janete fazer algum comentário maldoso sobe seu cabelo. Estava completamente revoltado, só ele sabia o quanto merecia estar alí, o quanto deu duro, tanto estudo, tantas lições, madrugadas a fio de treinos, não ia deixar três Lauens quais quer tirarem o mérito dele. Mas de fato, agora se perguntava enquanto andava pelo corredor sem rumo, por que Demônios seu avô não botou ele para fazer testes igual todo mundo, se ele sempre dizia que ele era o mais forte da sua idade que ele já viu, certamente iria passar com facilidade.
"Será que ele mentiu, talvez só estivesse tentando me agradar, será que eu não sou forte o suficiente para passar nos testes? Ou ele achou que os testes eram muito difíceis para mim?"
Seus pensamentos agora o corroem por dentro, ele precisa entrar em alguma outra cabine, mas não quer mais ninguém o julgando como aconteceu agora pouco, porém o Navio havia acabado de zarpar, iria levar muitas horas até chegarem, não poderia ficar vagando pelos corredores durante esse tempo. Resolve procurar um banheiro para lavar seu rosto, talvez assim diminuísse um pouco toda a raiva que estava sentindo, e continua andando.
Mesmo já estando em movimento o Navio, era como se ainda estivessem parados, não sentia o balanço do barco, isso era incrível, e foi com pensamentos sobre coisas aleatórias como esta que ele deixou um pouco de lado tudo que aconteceu enquanto fazia sua busca pelo banheiro. Não demorou muito para achar uma placa sinalizando onde era, porém ao entrar teve uma surpresa.
Assim que abre a porta, nota que lá dentro havia quatro garotos juntos, eram três meninos em volta de um outro mais baixo, na verdade esse outro tinha a mesma altura que Adriel, o que sim, quer dizer que são baixinhos, ainda mais em comparação com os outros três meninos, e o mais interessante era que os três eram tri-gêmeos. Todos de cabeça raspada, magricelos e olhos grandes com queixos grossos, e estavam de alguma forma ameaçando aquele outro entre eles que tinha cara de nerd com seus óculos fundo de garrafa, blusa gola polo e cabelo arrepiado.
Adriel se aproxima e antes que notassem sua chegada ele ouve os três falando alguma coisa para o menino nerd sobre ele ter de fazer todos os trabalhos dos três para não apanhar em quanto estivesse na escola, e só assim eles também o protegeriam dos valentões, no caso, deviam estar falando deles mesmos.
Assim que os meninos o notam, um deles toma a frente antes que Adriel se aproxime mais.
—O banheiro está fechado, procure outro— Faz sinal com as mãos como quem enxota um cachorro de rua.
—Não parece fechado para mim, e na verdade eu vim só buscar meu amigo, esse aí de óculos que vocês estão conversando amigavelmente.— Não sabia exatamente o que estava fazendo, ou, e por que estava fazendo, mas quando viu, as palavras já tinham saído da sua boca, por algum motivo queria defender o nerd.
—Nesse caso, por que não vêm e se junta a ele, se bem que você não tem cara de ser muito inteligente não, não sei se teríamos utilidade para você.— Fica rindo e se mostrando pros irmãos.
—Além de que Bruno, ele tem esse cabelo de boiola, pode pegar mal se virem a gente conversando com ele.— Faz uma cara de nojo um dos que estavam mais atrás.
—Vamos só surrar ele e cortar seu cabelo então para ele aprender a não se meter mais onde não é chamado.
—Corre, corre daqui e chama alguém, vai, vai...— O nerd tenta avisar Adriel mas é interrompido com um soco na barriga que o faz perder o ar na mesma hora.
Adriel não se mexe, não via motivos para correr, estava disposto a enfrentar eles, acabava de lembrar da raiva que estava sentindo a poucos minutos atrás, e iria descontar nesses três.
—Muito corajosa a biba, vamos acabar com ele, vamos, venham.— Bruno que estava mais a frente grita chamando seus irmãos para ajudá-lo na briga.
—Podem vir três patetas, podem vir.— Adriel estava com mais raiva que nunca. Porém jamais tinha enfrentado mais de um alvo ao mesmo tempo, seus treinos eram sempre contra seu Mordomo e amigo Charles ou seu avô, e também seria a primeira vez que brigaria com alguém da sua idade, mas ao contrário de nervoso, eles estava muito animado para ver se era forte mesmo e se os seus treinos surgiriam efeito. Adriel sorri para eles e ativa sua energia.
—Zen.
Os três param na mesma hora como se tivessem se lembrado de alguma coisa e também ativam suas energias. A camada de zen dos quatro eram algo bem singelo, não tinham nem um dedo de espessura, dos três gêmeos era um zen da cor vermelho sangue, enquanto a energia emanada por Adriel era escura como a noite.
O primeiro se antecipou e deferiu um soco na direção do rosto de Adriel, que o desviou com tamanha facilidade, logo os outros dois se juntaram, um tentou um chute, em quanto o terceiro tentou dar a volta e segura-lo por trás, ele desviou fazendo com que os dois se acertessem.
Tentaram mais alguns golpes desajeitados, mas eram muito lentos, além de não terem muita habilidade com artes marciais, parecia até injusto bater em fracotes como eles, mas que se dane, com um único soco rápido quebrou o nariz de um deles, com um chute bem dado no rosto do próximo o desacordou e no terceiro deu uma banda e o deixou estatelado no chão com as mãos a costela e reclamando de dor, a luta havia acabado e ele nem tinha suado.
Não merecia estar alí uma ova, ia bater em todo mundo se fosse preciso para provar que era merecedor. Mas ainda sim, a primeira coisa que faria quando visse seu avô, seria perguntar por que ele não fez os testes igual a todos os outros.
—Vamos garoto, vamos sair daqui.— Chamou pelo nerd que veio correndo sem pensar duas vezes.
Já fora do banheiro apertaram o passo como se alguém os estivessem perseguindo, mas ao virar o corredor começaram a andar normal.
Até que conseguiu extravasar um pouco da raiva que Adriel estava sentindo, mas agora teria que procurar uma cabine para ir, de preferência uma vazia. Nem tinha entrado na escola e já tinha quase brigado com o irmão do Senshi e batido em três garotos, achava que seria um pouco mais calma as coisas de início, nem conseguia pensar como seria o clima na escola se todos fossem idiotas iguais aos que conheceu até agora.
—Vou nessa, se cuida viu.— Adriel se despede do menino com um asceno.
—Espera, qual seu nome? Eu me chamo Akio Ueda. Muito obrigado por me ajudar cara.— Tinha os olhos puxados e cabelo preto, era tão liso que chegava a arrepiar.
—Adriel Protil, muito prazer. Eu não fiz por você, só queria uma desculpa para bater em alguém.— Se vira e sai andando ignorando Akio.
—Calma ae, que mania essa sua de querer fazer saídas dramáticas, e não vai se achando não, eu poderia ter acabado com eles também se você quer saber.
Ainda de costas ele para e responde:
—Uhum, eu vi na sua cara de medo, não sei como não se mijou.
—É que eu descarreguei antes deles chegarem.— Os dois sorriem e Adriel se vira.
—Não quis ser mal educado. E não foi nada pela ajuda, mas na próxima vou ficar esperando para ver como você "acaba com eles sozinho".— Os dois sorriem de novo.—Mas agora eu vou nessa, a gente se esbarra na escola beleza?
—E qual é a sua cabine?
—Na verdade, eu não tenho uma cabine exatamente.— Sem graça Adriel coça a cabeça.
—Então fica na minha, as meninas vão te adorar, ainda tem uma vaga.
Então os dois seguem para a cabine do Akio, Adriel pensa que pior que a outra ele duvidava que seria. Antes de entrarem vêem vários funcionários do navio saindo pelo corredor com mesas móveis de metal vazias, e sentem um cheiro ótimo de comida.
Assim que abrem a porta deslumbram uma mesa farta de café da manhã, o cheiro de pão quente recém assado fica mais forte que nunca, mas por mais fome que Adriel estivesse, o que mais chama a sua atenção era uma das meninas, ela também tinha os olhos puxados iguais do Akio, era magrinha e um cabelo igualmente liso ao dele, porém era longo, indo até quase a cintura, tinha mexas rosas, vários piercings na orelha direita e um no nariz, era a menina mais linda que ele já viu, diferente de todas as outras, tudo bem que ele não vê muitas meninas por aí, mas essa era diferente, não diferente das meninas Lauens, mas diferente de todas as outras, tinha algo de muito especial nela que atraia Adriel como uma cenoura dentro de uma jaula atraí um pobre coelhinho . Akio apresenta as duas para ele, essa na qual ele ficou encantado se chamava Kamiko Ueda, irmã gêmea do Akio, esse devia ser o dia internacional dos irmãos gêmeos pensou ele. E a outra era Alice, as duas eram baixinhas mas essa era a única semelhança entre elas, Alice era morena enquanto Kamiko era muito branca, além disso Alice era loira dos cabelos cacheados, bem gordinha e isso mostrava também no seu rosto, tinha umas bochechas bem grandes.
O caminho todo foi de muita conversa, risadas, brincadeiras e bastante comida, Alice comeu muito e Akio fez várias piadas que fez Adriel rir bastante e deixou a menina sem graça, o que irritou sua irmã Kamiko, as duas que tinham se conhecido naquela cabine já pareciam grandes amigas, todos tinham a mesma idade, 12 anos, todos os três foram muito legais e Adriel não escondeu deles que era neto adotivo do diretor Ambrósio e que passou para a escola sem fazer prova, ao contrário da outra cabine, dessa vez ninguém o julgou e só ficaram mais interessados na sua vida, querendo saber mais sobre esse diretor que tanto tinham ouvido falar, se de fato era muito rígido, se era poderoso e tudo mais, Adriel até contou vantagem para se mostrar para Kamiko dizendo que era amigo do Draber, o que ela não ligou muito, mais Akio se amarrou e fez várias perguntas, depois do lanche veio o almoço, depois o lanche da tarde e por fim chegaram, como passe de mágica a ilha surgiu na janela, e Alice fez questão de explicar.
—É por que existe uma barreira invisível a volta da ilha e ela só aprece quando chegamos bem perto passando por essa barreira.—Akio tem uma cara de nerd com aqueles óculos, mas com certeza a inteligente do grupo era Alice.
Alice também contou que era filha de um dos professores da escola, o professor de Alkimia, Mario Stebas, que seu irmão era jogador profissional de Queimado Lauen de um time famoso, os Tigres. Adriel nunca tinha jogado e nem sabia como era, mas tava doido para aprender, e sua irmã era uma policial de elite, e ambos passaram por essa escola.
Já Kamiko e Akio contaram que eram de uma família de empresários, que somente seu avô é Lauen, e é alguém muito influente no ramo da política.
Em fim o Estrela da Noite âncora e todos os alunos do primeiro ano vão para a proa do navio, estão a uns 600 metros da praia. Além dos alunos do primeiro ano, está ali também a Capitã Lemos e alguns outros marinheiros.
—Senhoras e senhores!— A voz da capitã estava tão alta que parecia usar um mega fone, mas ela não tinha nenhum em mãos.— A jornada de vocês começa agora, já lhes adianto que não será nada fácil, trago os alunos para essa ilha a mais tempo do que consigo contar, e espero que eu possa trazer a grande maioria de vocês novamente no ano que vêm. Agora sigam os marinheiros e entrem nos botes, vocês irão remar até a costa e lá irão abandonar os barcos, todas as suas bagagens serão entregues na escola, não se preocupem com mais nada além de chegar ao seu destino, tenham um ótimo ano escolar e boa sorte. Que os Deuses lhe protejam!
Primeiramente ficam todos atônitos com o discurso da capitã, mas com o chamado dos marinheiros correm todos para os botes fazendo grupos de 8, os marinheiros não vão juntos, apenas passam orientações básicas de como usar os remos e os soltam no mar. Os alunos fazem um revezamento dos remos pois só tinham 4 e levam mais ou menos vinte minutos para chegar, assim que todos descem na praia, os botes voltam sozinhos e em alta velocidade para o navio, mas pareciam lanchas, não levam nem dois minutos para retornar.
—Mais que merda, por que eles não podiam fazer isso na ida?— Reclama Akio, muitos dão risadas, outros só ficam com raiva.

capítulo 4 - Corra.
Já estavam ali parados na praia há uma hora, e não faziam ideia do que iria acontecer. Ao menos, diferente do Porto, o sol não os estava os castigando, era um clima agradável, ventava suavemente, e fazia um frio gostoso. O sol tinha ido embora um pouco após eles chegarem à ilha, mas mesmo assim, nem sinal da lua, ela insistia em se esconder nas nuvens.
Um rebuliço tomou conta do grupo, eram 100 pré-adolescentes perdidos na praia e conversando com seus respectivos grupinhos, falavam sobre tudo e sobre nada, muitos insistiam em sair dali, outros em ficar e aguardar, e tinha aqueles que diziam que deveriam se abrigar, montar uma cabana ou coisa do tipo. A verdade é que estavam sem rumo.
A areia era quase tão branca como a neve, pequenas conchas espalhadas por ela trazidas pela água gelada, um céu lindo e estrelado, mesmo sem lua, com gaivotas sobrevoando o mar próximo à praia, era uma paisagem belíssima.
O navio havia zarpado logo depois deles chegarem e não deram informações sobre o que deviam fazer.
Um grupo de seis meninos resolve sair andando pela areia e começam a se afastar dos outros, mas logo são interrompidos.
—Onde pensam que vão? —falou um garoto de forma imponente, Adriel o reconheceu na hora, se tratava de Rick.
Agora estavam todos cochichando e prestando atenção em Rick, ficaram amontoados em um semicírculo à volta deles querendo saber o que estava acontecendo, todos sabiam quem ele era, era o famoso irmão do Senshi, as meninas se derretiam e os meninos o invejavam, parece que só agora que ele foi reconhecido por todos.
—Vamos sair daqui e achar o caminho para a escola, não vamos ficar a noite toda esperando. —Quem respondeu foi um dos seis meninos, ele tomou a frente como o líder do grupo. Sua voz era rouca e tinha uma bela pança.
—E como sabe para onde ir? Já olhou em volta? Essa ilha é enorme. —retrucou Rick.
E era mesmo, o pedacinho de praia que eles estavam não correspondia nem a 1% da ilha, nada garantia que os seis aventureiros iriam encontrar o caminho para a escola, podiam ficar perdidos por muito tempo, ou para sempre. Atrás deles só tinha o mar, que foi de onde vieram. À sua esquerda, a uns 100 metros tinha uma grande muralha de pedras amontoadas, alcançava mais de 30 metros de altura, poderiam tentar escalar, mas por que o fariam? À sua direita era apenas areia e mais areia, a praia se estendia até muito longe, e se perdia de vista no horizonte quando parecia fazer o contorno na ilha. E nas suas costas, era um mar de árvores, uma mata fechada sem fim. Ao menos era oque qualquer um pensaria ao se deparar com aquilo, árvores imensas e matos altos, impossível prever o que teria ali ou onde terminaria, além de que, entrar naquela floresta era o de menos, o problema seria sair.
—E o que você sugere então? Ficarmos parados aqui sem fazer nada? Vamos morrer de fome e frio se não nos buscarem. —uma menina negra dos olhos escuros e pele suave surge na multidão e pergunta para Rick, ela usava uma calça jeans escura e uma blusa branca de regata, ela tremia de frio.
—Ei, me dá isso aqui. —Rick toma a jaqueta de um menino perto dele que não reclama, mas faz cara feia, depois entrega para a menina. —Toma, isso vai te ajudar um pouco.—a atitude dele fez as outras meninas o admirarem ainda mais e agora Adriel pensava como ele que gostaria de ter feito isso e ser o centro das atenções.
—Acredito que isso faça parte de um teste, querem saber como vamos reagir nessa situação, não devemos nos separar, devem estar nos observando.
Todos olham em volta mas não veem nada, só a paisagem intocada pelo homem, ao menos é o que parece.
—E quanto mais tempo esperamos? —um outro menino moreno de boné e casaco verde pergunta.
—Talvez a noite toda, talvez alguns dias, ou pode surgir alguém a qualquer momento, não dá para saber. Devemos nos organizar e pensar em arrumar coisas para comer e se abrigar caso esse teste dure muito tempo. —Diz Rick.
Todos ficam horrorizados com a ideia de passar a noite na praia sem ter o que comer, beber ou onde dormir, afinal, eram apenas crianças, Lauens e habilidosas, mas ainda assim crianças.
—Aí estão vocês. —surge uma mulher vindo da floresta, toda de preto, um cabelo escorrido e longo, olhos escuros, calça social justa e preta, e a blusa também social e preta, até sua maquiagem era negra, sombra e batom. O que contrastava com sua pele branca e pálida, era uma mulher feita, passava dos 35 anos.—Venham todos até aqui imediatamente. —ela estava a uns bons metros de distância deles, lá no final da areia, bem na divisa onde a praia virava terra e grama.
Ninguém fazia ideia de quem seria essa moça, mas todos foram sem contestar. Pela forma que ela se dirigiu ao grupo, devia ser alguém responsável por buscá-los, pensou Adriel.
Ficam todos parados à sua frente e à sua volta, formando uma meia lua, todos em pé e aguardando para saber quem era ela.
—Eu sou à senhora Pontyurfo, a governanta da escola, e como se eu já não tivesse muito trabalho, ainda sou obrigada a vir buscar vocês, então já deixo claro que não terei paciência para brincadeiras idiotas e perguntas sem sentido. —na mesma hora todos ficam assustados e permanecem calados. —Alguma pergunta? —mas ninguém fala nada e sequer levantam a mão.
—Muito bem, vou guiá-los até a escola, temos algumas horas até o jantar, então vamos aproveitar e conhecer um pouco da ilha em que estamos.—ela dá um largo sorriso, mas nada acolhedor. —E não vamos parar por nada, caso alguém não consiga acompanhar, terá que achar o caminho até a escola sozinho. Entendidos?
Todos respondem do seu jeito, alguns só dizem que sim, outros só balançam a cabeça e a maioria diz entendido. Todos seguem a senhora Pontyurfo, ela segue caminhando pela areia, vai contornando a ilha em uma marcha rápida e silenciosa, ao menos da parte dela, anda bem rápido mas não chega a correr, e todos os alunos atrás no seu encalço. Os alunos falam sem parar, vão conversando o caminho todo, o que não parece incomodar a governanta que nem sequer olha para trás nem por um segundo para conferir se estão mesmo a seguindo.
—Acho que afinal o Rick se enganou né, pelo que parece não era prova nenhuma, eles só esqueceram mesmo da gente, não faz sentido ter uma prova antes mesmo de entrarmos na escola.—Akio comenta com Adriel, os dois eram quase os últimos.
—Verdade, daqui a pouco devemos estar chegando, já estamos andando há muito tempo. —Adriel responde mantendo o passo.
—Já estamos andando hà uma hora, é melhor vocês ficarem lá na frente para não perder ela de vista. —Alice passa com Kamiko por eles, aceleram o passo e se mantém lá na frente.
Ao contrário do que Adriel falou, eles não chegam logo, passam duas horas caminhando a passos rápidos pela areia para enfim liderados pela sra. Pontyurfo tomarem uma trilha pela mata. Como o grupo era muito grande, tiveram que afunilar fazendo quase uma fila indiana pela floresta, a trilha era estreita e só cabiam três pessoas lado a lado.
Mesmo sendo crianças de 12 anos, eram Lauens que passaram para a escola Kellher, o que se equipara a atletas semi-profissionais, então uma caminhada de duas horas era tranquilo para todos eles, mesmo muitos ali não estando em forma.
Assim que entram na floresta, Adriel sente uma energia no ar, e pela feição dos outros, parece que todos sentiram também, era uma energia diferente, algo agradável mas bem forte, tinha muita magia por ali, o zen no local era tão intenso, que se tornava quase palpável. Talvez por ficar perto de uma escola onde todos usam magias, todo o zen tenha impregnado no ar, foi o que pensou Adriel.
Mas logo à frente viu que se tratava de uma floresta diferente de qualquer outra. Avistaram um pequeno córrego de uma cor roxa brilhante, parecia ser de um líquido espesso, mas quem resolveu parar para observar melhor logo ficou para trás pois a governanta não parava por nada.
Viram também alguns animais diferentes, alguns micos dos olhos vermelhos e bigodes de gatos, avistaram bem longe uma capivara de seis patas e viram alguns morcegos peludos com asas que brilhavam no escuro dando rasantes pela mata. E Akio jurou ter visto um gnomo no meio da mata perto de uma pedra triangular. É claro que ninguém acreditou nele, afinal gnomos eram só uma lenda, até Adriel sabia disso. Agora alguns dos alunos já faziam pedidos para parar por um breve momento, seja por que estavam cansados, com fome ou sede, passar beirando uma linda cachoeira de águas cristalinas e peixinhos florescentes fez a cede de todos aflorar ainda mais, mas a governanta apenas ignorou o pedido de todos e continuou.
A cachoeira fez Adriel se lembrar de casa e também da última história que seu avô lhe contou, tinha que confiar no seu potencial, estava sim cansado como todos os outros, cheio de sede e fazia várias horas desde a última refeição no navio, mas tinha que seguir em frente, não ia ser o único a ficar para trás, pelo menos não parecia que ninguém tinha ficado.
Era um clima gostoso, sem sinal de chuva e um vento suave, fazia um leve frio, mas estavam todos suados, caminhando a passos ligeiros a quase quatro horas, muitos estavam quase se arrastando, todos bem ofegantes e sendo impulsionados pelos seus companheiros que usavam frases de efeito para incentivá-los. Adriel olhou em volta e com toda certeza já não haviam mais 100 alunos naquele grupo, talvez havia sobrado a metade, não sabia dizer. Pararam para beber água na cachoeira? Pararam para amarrar os cadarços? Se aliviar na mata?
Não interessa, a sra. Pontyurfo não esperou por ninguém e seguiu seu caminho sem nem olhar para trás.
—Será que... isso é ordem do seu avô? Ou... ela que está com raiva de ter de buscar a gente... e está descontando em nós? Se for isso... ela é muito sádica. —Akio comenta com dificuldade, bem ofegante, quase que sua voz não sai, falar e manter o passo estava bem difícil naquele momento.
—Como eu vou saber? —Adriel dá de ombros. —Mas olha para ela... Nem suada está.
Já estavam todos caminhando pela mata hà várias e várias horas, muitos ficaram para trás, e aqueles que conseguiram continuar, estavam nas últimas. Seus pés doíam muito, tinha mais mosquitos do que gostariam que tivesse e não faziam ideia de quando chegariam.
Todas as perguntas e pedidos que faziam a governanta os ignorava, devia julgar que eram todas perguntas e pedidos idiotas.
Haviam feito caminhos bem sinuosos até ali, desceram alguns barrancos, subiram outros, passaram por cima de um tronco enorme que estava tombado, subiram uma grande ladeira sinuosa e seguiram beirando do alto de um morro, lá de cima avistaram uma pequena cidade, muito bonita e iluminada, não devia ter nem mil pessoas morando ali, era uma cidade rústica, casas de tijolos, postes com lamparinas, carroças e cavalos. Tinha um cemitério também por lá, a uns cem metros de distância subindo um monte.
Um pequeno lago de água esverdeada abastecia a cidade. Havia um lindo moinho também e algumas fazendinhas beirando o lago. Desceram o morro e seguiram em linha reta por um bom tempo, finalmente saíram da mata e encontraram uma estrada de terra batida. A governanta fez um sinal com as mãos e para o azar de todos começou a correr, todos tomaram fôlego de onde não tinham e aceleraram, se mantiveram no ritmo o máximo que puderam.
Akio por muitas vezes quis desistir alegando não aguentar mais, porém Adriel insistiu o máximo que pôde e o menino se manteve na trilha. Depois de um tempo de corrida, saíram da estrada e começaram a subir uma colina muito íngreme, era tão íngreme que quando chegaram no meio tiveram que usar as mãos para se apoiar e continuar a subir.
—Não dá, esse é o meu limite, vai você, eu não consigo mais.—Akio agonizando interrompe a corrida no meio da subida.
Antes mesmo que Adriel falasse alguma coisa, Kamiko toma a frente.
—Você sempre desiste não é? Por isso que papai sempre preferiu a mim do que a você, não é para menos, volte para casa e conte para ele que você desistiu, deixa que eu viro a heroína da família. Eu te mando algumas cartas depois.—assim que termina de falar vira para frente e sobe, Alice olha para eles sem entender nada e segue sua amiga pedindo para esperar por ela, Alice parecia muitíssimo cansada, mas kamiko nem um pouco.
Rick passa por eles dando risos de alguma coisa conversando com outros dois meninos. Mas alguns alunos param lá trás antes da subida porém a maioria segue em frente. Sem Adriel precisar falar nada, Akio toma fôlego e sobe como uma flexa, mais determinado do que nunca, as palavras da sua irmã surtiram mesmo efeito. Adriel continua a subir, ver seu amigo parar o desanimou por um instante, mas ao ver Rick passando por eles rindo, não ia aceitar ficar para trás e sobe também, estava determinado a fazer de Rick o seu rival, se ele era o mais forte dos alunos do primeiro ano, era ele que Adriel tinha de superar e provar para todos que merecia sim estar ali. Mas nunca imaginou que seria tão difícil, as coisas deviam melhorar depois que finalmente chegasse na escola.
Quase no topo da subida, todos que subiam paravam por alguns instantes e depois desciam, a senhora Pontyurfo já tinha sumido da vista de Adriel, devia ter descido e estava bem à frente, mas não importava, faltava pouco para chegar sua vez de descer, jurou para si mesmo que não queria ver uma ladeira na sua vida nunca mais. Akio já havia subido e estava parado lá em cima, provavelmente para descansar, mas depois de alguns minutos chega sua vez, e agora entende por que todos paravam aqui em cima.
A vista era incrível, mas não era uma paisagem qualquer, nem ao menos uma paisagem natural, ele estava vendo a escola, todos estavam, era diferente de tudo que ele imaginava, seu avô nunca havia descrito como era a escola por fora, só dizia que era grande, mas não imaginava que era algo tão grande. Se tratava de uma torre redonda e muito alta, feita de pedras negras com detalhes roxos que ficam se mexendo como artérias pulsando, o que davam um brilho natural e um ar sinistro, esses detalhes roxos pareciam muito com o líquido do lago que viram a horas atrás, incontáveis janelas com luzes vermelhas das tochas que cintilavam, a lua cheia aparecia logo atrás fazendo sombra na torre, a luz da lua brilhava de uma forma surpreendente e linda, algumas montanhas lá longe pelo fundo, a torre era tão alta que tinha mais de 30 andares, e havia também um grande lago rodeando a torre. Muros bem altos cercavam todo o território da escola e pegavam uma parte do lago, havia também pequenos prédios separados dentro dos muros e um jardim bem lindo.
Agora era só descer e seguir em frente, todos comemoravam e estavam muito felizes, o cansaço parecia ter sumido e a escola estava tão perto que agora era uma questão de tempo para chegar, comer e descansar.

Capítulo 5. A Noite Nunca Acaba
Após cruzarem os muros e entrarem no território da torre, passam por um lindo jardim com flores e plantas diversas do mundo inteiro e até algumas tão diferentes que nem pareciam ser desse mundo. Dão a volta em um grande labirinto de cercas vivas e passam perto de uma estufa, até chegarem em uma entrada lateral da torre, trilhas de pedras mostraram os diversos caminhos que podiam ser feitos e por ali que vieram.
Ao contrário da entrada principal que tinha uma escadaria longa e corrimões de pedras negras que levavam até uma imensa porta negra com adornos de um vermelho vivo, percebia-se que a porta era tão alta que passaria até um gigante. Mas essa entrada lateral era modesta e pequena, uma portinha grossa de ferro do tamanho padrão de um adulto, tinha uma campainha de mão na porta dessas de casas antigas, com os detalhes descascando e já quase apagados com o tempo de o que parecia ter sido o rosto de um gargula em dourado um dia, na qual a senhora Pontyurfo bate três vezes.
Eles aguardam só um breve momento até que a porta se abre rangendo bastante causando alguns arrepios nos alunos e no homem que a abre.
—Por favor Pontyurfo, peça para arrumarem essa porta por gentileza.—O homem olha em volta para todos os alunos, ele não era muito alto e tinha uma barba engraçada, além de se vestir com roupas esquisitas. —Parece que muitos ficaram para trás dessa vez, será que não pegou pesado demais? —perguntou à governanta, mas ela o olha com indiferença e desaparece com um som de Puf! Abafado.
Todos ficam sem entender nada e perplexos, ela simplesmente desapareceu sem deixar rastros bem ali na frente dos olhares curiosos dos alunos. E nem ao menos se virou para se despedir.
—Vamos, entrem, entrem todos, em breve o restante de vocês devem chegar também. —antes de fechar o homem dá uma boa olhada lá para fora conferindo se não avista mais ninguém e depois fecha a porta que range novamente.
—Boa noite a todos, sou o professor Dionísio Fagundes e leciono o estudo dos Demônios e das criaturas sobrenaturais, e esse é o meu amigo Beto.
Enquanto todos os alunos entram em uma antessala o professor dá um passo para o lado e aponta para um bichinho verde e gosmento que se escondia logo atrás das pernas dele.
O bichinho mais parecia uma gelatina de limão que ganhou vida, tinha olhos redondos e arregalados e não possuía mais nada, não tinha nariz, boca, orelhas ou membros como braços e pernas, ele só se rastejava e pulava, e foi o que fez, se rastejou e saltou para o ombro do professor Dionísio. À primeira vista todos se assustaram e ficaram com nojo, principalmente as meninas, mas agora ele parecia fofinho com seu olhar de felicidade, tinha pouco menos de 30cm de altura e fazia sons engraçados.
—O que demônios é isso professor, qual é a espécie dele? —Akio pergunta apontando e curioso.
—Ele não tinha sido catalogado até eu achá-lo sozinho, coitadinho, então dei o nome de Diônisis Clones, mas o chamo carinhosamente de Beto. —Todos deram risadas. —Outro dia posso contar a vocês como que eu o achei, foi uma aventura impressionante na terra dos elfos que por pouco eu sobrevivi.
Adriel ficou impressionado e ansiosos de ouvir a história um dia, qualquer Lauen sabia que elfos odiavam humanos, além de ter milhares de anos que um elfo foi visto, então ou o professor era um grande aventureiro ou um grande mentiroso, de qualquer forma Adriel tinha certeza que seria uma história deveras divertida.
Enquanto seguiam o professor por um longo e estreito corredor de teto alto e pouco iluminado por algumas velas que flutuavam acesas lá no alto, o homem foi contando curiosidades sobre a torre.
—Há centenas de milhares de anos atrás essa torre era de uma família real, porém sofreram ataques de um clã rival que mataram a todos, mas o rei sobreviveu, escondido em uma passagem secreta, depois um exército aliado recuperou o lugar e ele voltou a reinar, só que sozinho dessa vez.
Após saírem do corredor estreito saem em um salão imenso e muito iluminado, a tapeçaria do lugar era incrível, quadros imensos nas paredes, cabeças de animais empalhados, e uma grande escada no centro que dava para o andar de cima, mas a sala era ampla, e não dava para ver o teto, só uma sequência de escadas de corrimões prateados que pareciam não ter fim, uma ligando a outra subindo cada vez mais alto, o lugar todo tinha um padrão, tapetes vermelhos, paredes negras, mas sem os detalhes roxos escorrendo por elas que havia nos muros do lado de fora, tochas cintilando nas paredes e um piso de carvalho brilhoso com um bálsamo especial. Enquanto sobem as escadas o professor Dionísio continua sua história.
—Porém com isso o rei ficou louco e mandou reformar toda a torre criando centenas de passagens secretas e mandou instalar muitas armadilhas para o caso de a torre fosse tomada um dia, os novos moradores sofressem acidentes horríveis.
Foram contratados muitos lauens habilidosos e vários engenheiros, que trabalharam em conjunto fazendo todo tipo de armadilha, muitas com runas, outras somente manuais, e diversos caminhos secretos para se abrigar ou fugir de um novo ataque. Mas o rei com medo de seus inimigos descobrirem tudo mandou matar todos os lauens, pedreiros e engenheiros que trabalharam nesses tunes e armadilhas. Só que a paz entre os humanos veio logo em seguida e nunca mais foi atacado. Resultado, várias futuras esposas e filhos morreram em acidentes trágicos. E até hoje o diretor e os professores ficam procurando passagens secretas, armadilhas e túneis para evitar que os alunos sofram os mesmos acidentes da família do rei louco. Eu mesmo já achei vários.
Após causar medo nos alunos e subir por alguns andares, chegam no quarto andar, eles passam por mais alguns corredores amplos com várias bifurcações e dão de cara com várias fadas, seres alados de orelhas pontuadas e asas de borboletas com cabelos amarelos e longos, as fadas têm uns cinco centímetros de altura e brilham no escuro, o professor explica que elas moram na torre e que existem milhares delas por ali, e que ajudam a senhora Pontyurfo a deixar tudo em ordem, elas falam umas com as outras enquanto passam voando por cima deles em uma língua muito estranha e o som é bem baixinho, os alunos é claro ficam maravilhados com as fadas, elas não são comuns fora dali, Adriel mesmo nunca tinha visto uma pessoalmente.
Todos os andares e corredores seguem o mesmo padrão de decoração e assoalho, porém alguns tinham mais estátuas, outros armaduras e alguns com somente quadros. Enquanto seguem pelo corredor amplo eles dão de frente a uma imensa porta de madeira com detalhes em dourado com duas estátuas de hidras de cada lado, cada uma com quase três metros de altura, a porta ainda conseguia ser mais alta que isso, além de larga. Adriel notou bem as estátuas, não sabia ao certo se parecia correto ter esse tipo de estátua dentro de uma escola, mas pensando bem, nada ali era muito comum, e ter armadilhas e passagens secretas tornava ainda pior a situação.
Então as estátuas de criaturas medonhas eram o de menos, mas eram muito realistas. A serpente de várias cabeças até parecia que um dia realmente teria existido, mas com alguma magia de um Lauen poderoso a transformaram em pedra e acharam que seria boa ideia que ela fizesse parte da decoração do lugar. Mas não poderia, seria uma coincidência impossível que as duas tenham sido petrificadas exatamente na mesma posição.
O professor bate na porta e a senhora Pontyurfo a abre por dentro com seu típico mau humor estampado no rosto, dando uma visão aos alunos de um salão absolutamente imenso, só aquele salão caberia toda a mansão de Adriel, sem contar com a parte exterior é claro, além da altura dele, caberia uns seis andares ali sem exageros de tão alto. Lustres imensos espalhados por todo lugar e lareiras enormes em cada canto, além de tochas nas paredes cuidavam de iluminar o local e aquecer a todos. Por ali havia muita gente, tinham umas seis mesas enormes de madeira envernizadas lado a lado na vertical que iam de ponta a ponta do salão com uma outra mesa em um palanque no final da sala na horizontal.
Essa outra mesa era a única forrada com uma toalha de mesa bem chique, era o lugar onde estavam os professores e o diretor no centro. Das seis mesas somente duas estavam vazias enquanto as outras quatro estavam cheias de alunos. Os alunos sentavam misturados e eram desde meninos e meninas de 13 anos, um ano mais velhos que eles, até adolescentes de 17 anos, e ninguém usava uniforme, cada um se vestia como bem entendia, porém não havia ninguém de bermuda ou camisa regata, havia um bom senso entre todos. A decoração do lugar seguia o padrão de armaduras completas de dois metros feitas de metal com armas variadas, lanças e escudos, alabardas, espadas bastardas, e outras e também havia vários vitrais grandes e coloridos na parede esquerda do salão, eles tomavam boa parte da parede e cada um com um desenho de um ser mitológico diferente. Era um lugar de tirar o fôlego de tão lindo. Todo o interior da torre era, tirando algumas partes bizarras das decorações.
—Entrem e sente-se nas mesas vazias, a cerimônia já vai começar. —Fala com rispidez a governanta.
O professor entra primeiro e os alunos em seguida, porém são surpreendidos quando Beto salta do ombro dele para cair na frente dos alunos e se transformar em uma Hidra de quase três metros igual as estátuas e assustar a todos os alunos desavisados do primeiro ano, arrancando risadas de todo o salão que observava atento. O interessante é que a hidra era verde, igual a cor do Beto, depois ele retorna para o ombro do professor na sua forma gosmenta, que o afaga com carinhos. Adriel suspeita que foi tudo combinado entre os dois.
Eles se sentam e são servidas jarras de água para todos trazidas pelas fadas, elas usam a telecinese para carregar as bandejas com copos e jarras de água, mas tudo que eles queriam era uma boa refeição e um banho quente para enfim dormir, o dia tinha sido muito cansativo e já estava tarde da noite, a barriga de todos roncava sem parar.
Mesmo já estando ali sentados, nenhum dos professores falava nada, só se ouvia os alunos conversando entre si, a cerimônia só começou depois que todos os outros alunos que ficaram para trás na floresta e enfim chegarem ao salão, todos acompanhados da senhora Pontyurfo, o estranho é que nem repararam quando ela saiu para buscá-los. Até eles chegarem esperaram quase uma hora, o que só aumentou a fome de todos.
—Bom, pelo menos agora vão falar alguma coisa e depois liberar a comida, espero que seu avô não fale muito. Não sei se aguento mais uma hora sem comer. —Akio comenta com Adriel e com todos em volta.
—Espero que ele não resolva contar nenhuma história. —Adriel sabia bem o quanto suas histórias eram demoradas.
—Ouvi falar que as refeições daqui são as melhores, o que será que vamos jantar hoje?
—Eu ouvi a mesma coisa, será que...
Antes que Alice continuasse a falar o diretor Ambrósio se levanta e a senhora Pontyurfo pede a atenção de todos para que ele começasse seu discurso.
—Uma excelente noite a todos, eu me chamo Ambrósio Protil, sou o diretor da maior escola de conhecimento e combate ao sobrenatural do mundo, a escola Kellher. —todos dão vivas e batem palmas.
—Gostaria de agradecer a presença de todos vocês, temos alunos de todos os continentes então meu muito obrigado por escolherem ou como prefiro dizer se deixarem ser escolhidos pela Kellher, agradeço nos cinco idiomas. Obrigado(central), Maitahal(norte), Bendcleo(sul), Loridanzo(leste) e Ranzenim(oeste).
—Antes de darmos início a festa de iniciação dos alunos do primeiro ano, gostaria de ressalvar algumas regras da escola que julgo serem muito importantes e devem ser lembradas neste momento.—pigarreou o diretor antes de continuar. —Sei que todos vocês, alunos antigos e novos já leram o livro de regras e normas da escola e as decoraram.
Adriel sentiu como se seu avô falasse isso diretamente para ele, já que há alguns meses atrás ele entregou um pequeno livro de bolso para o menino pedindo que ele o lesse e o decorasse pois era muito importante, mas se tratava do livro de regras, e se transformou em uma leitura tão chata e tediosa que Adriel desistiu na décima página. Mas conhecendo bem seu avô não duvidaria que ele tivesse colocado o livro entre suas coisas na mala.
—A primeira regra é o compromisso com os horários da escola, não são permitidos atrasos nas aulas nem ao menos nas refeições, além do toque de recolher às 22h, com algumas exceções nos festivais, nos alojamentos tem todos os horários nos quadros de avisos, então atentem a isso. A segunda regra que desejo lembrar é somente aos alunos do primeiro ano, vocês estão proibidos de avançar acima do quarto andar, isso só deve ser feito se for um pedido meu ou de algum outro funcionário dessa escola, e mesmo assim devem subir acompanhado de um dos funcionários. Isso ocorre por que ainda existem alguns perigos na torre, ela como todos sabem é repleta de passagens secretas e armadilhas, mesmo o corpo docente tendo eliminado quase todas, todo ano alguém acaba achando uma nova, eu diria que 99% das armadilhas até o quarto andar foram retiradas, e por possuir uma ou outra espalhadas nos andares superiores, e os alunos do primeiro ano ainda não terem habilidades suficientes para lidar com tais desafios, sugiro que não tentem a sorte. Tem muitos anos que um aluno morreu desse jeito, mas é bom repetir todos os anos. E relembrando a terceira e última regra, essa vale para todos, cada um de vocês receberá um número e nos quadros de avisos das aulas irão dizer de qual número até qual número irá assistir a aula naquele horário, prestem atenção, assistir aulas erradas não contará como presença e receberá falta na aula que não foi. —caem papéis quadriculados do nada na frente de cada um com um número e o ano, Adriel era o número 22, Akio o 23, parecia seguir uma sequência pela ordem que estavam sentados os alunos. —Agora vamos dar início ao festival de iniciação dos alunos do primeiro ano.
As portas se abrem e fadas entram com harpas, tambores, bandolins e outros instrumentos músicas encantados, todos levitando e tocando músicas animadas que fazem todo o salão festejar, em seguida entram bandejas e mais bandejas de comidas e bebidas flutuantes trazidas pelas fadas com seu poder de telecinese que são distribuídas em todas as mesas, menos nas mesas dos alunos do primeiro ano, esses ficam ali sentados e olhando em volta sem entender nada, estão todos comendo e festejando, muitos em pé dançando, outros só sentados comendo e conversando, mas eles não, estão de cara feia, esperando e tentando entender por que essas fadas esqueceram deles.
O diretor se levanta e com um sinal de mão a música para, quem estava em pé, agora se senta e todos ficam atentos olhando para ele.
—Alunos do primeiro ano têm aula amanhã bem cedo, então senhora Pontyurfo, por gentileza, acompanhe todos até o alojamento deles para que tomem um banho e durmam. Os outros alunos do segundo ano em diante que só começam as aulas daqui dois dias, vamos festejar por eles.
—Espera, isso não é justo, estamos com fome, andamos por horas na mata, nossa última refeição tem mais de 12horas, não podem nos tratar assim. —quem fala era um dos trigêmeos que brigaram com o Adriel no navio, era difícil saber qual deles agora, mas mesmo ele tendo sido o único a se levantar e falar, era sem sombras de dúvida o que todos os outros alunos do primeiro ano gostariam de ter dito nesse momento.
—Você não pode falar assim com o diretor, amanhã você... —antes que a senhora, Pontyurfo continuasse o diretor a interrompe.
—Eu entendo seus questionamentos meu jovem, mas é a tradição da escola, tudo que estão passando eles também passaram. —aponta para os alunos mais velhos, na qual eram todos os outros.
—Não pensem que estão em uma colônia de férias, ou em uma escola técnica no verão. Isso aqui é um internato super concorrido e é a maior chance que vocês têm de se tornarem herois um dia, mas não pensem que será fácil, hoje foi só um grão de arroz perto do que está por vir, porém todos vocês tem a opção de desistir, e eu de fato sugiro que assim o façam aqueles que acham que o que aconteceu hoje foi de fato um absurdo, pois daqui para frente, só vai piorar, mostrem seu valores, crianças, para serem heróis de verdade um dia.
Vão todos cabisbaixos e com as barrigas roncando para os alojamentos, eles tomam seus banhos e vão para os quartos, eram somente dois quartos, um dos meninos e outra das meninas, cada um tinha direito a uma cama com um armário e uma pequena cômoda, e uma cortina para separar cada um deles se assim desejassem.
Enquanto estão todos deitados tentando dormir e ouvindo um som de festa lá longe vindo de dois andares acima, Adriel e Akio que são vizinhos de camas ouvem uma conversa ali perto de alguns alunos que reclamam dos celulares e outros aparelhos eletrônicos não estarem funcionando, e um deles conta que seu pai lhe disse que existe um bloqueio na ilha, que mesmo a magia sendo conhecida entre todo o mundo, essa ilha era algo secreto, a localização ao menos. Acaba que não demoram para pegarem no sono de tão cansados, mesmo cheios de fome.
Um sono diferente de tudo que já tiveram, reconfortante pela exaustão que chegaram, mas incômodo, não só pela fome, mas pela ansiedade de todos, sabiam que o dia seguinte traria muitas aventuras, porém algumas dolorosas como a de hoje.

Capítulo 6. Conhecimento é poder
Todos os alunos do primeiro ano acordam bem cedo e disparam como flexas para o salão principal que estavam na noite anterior. O quadro de avisos mostrava que todas as manhãs seria servido o café da manhã, então não perdem tempo.
De barrigas roncando de fome, e cheios de raiva da noite anterior, sobem as escadas e seguem pelos corredores até o quarto andar. No caminho Adriel pensava alto se não teria mais alguma pegadinha.
—Será que dessa vez iremos comer em paz sem precisar caminhar por muitas horas na mata?
—Juro que se não tiver comida lá eu volto para casa a nado.— Akio disse com ironia. Mas adriel nem sequer sorriu.
E já esperado, a comida estava lá sim, parecia um banquete de Reis. Adriel já era acostumado a comer coisas muito boas na mansão, mas aquilo era surreal. Era tanta diversidade de comida que seria impossível para ele provar um pouco de cada no mesmo dia. Tudo muito fresco e saboroso, o cheiro causava ainda mais fome e aguçava o paladar dos alunos. Todos os tipos de patês, geleias, pães, frutas, sucos, achocolatados e tudo mais que tinham direito.
Seguindo o cronograma do mural de avisos, Adriel junto de Akio partem para sua primeira aula. Entram em uma sala ampla e arejada, pela janela podia-se ver as belas montanhas da ilha. A sala já estava cheia de alunos quando uma professora entra batendo a porta atrás dela, vai até o tablado e se apresenta.
—Bom dia, eu sou a sub-diretora e também a professora de magia. —enquanto falava, as suas costas um giz branco flutuava e riscava um quadro negro bem grande, escrevendo o nome dela. —Eu meu chamo Miria Lemos, e na aula de magia para iniciantes de hoje iremos falar da introdução da magia. Todas as magias exigem regras e são divididas entre ranks. Andem, por que ainda não estão escrevendo tudo que eu digo?— A professora de meia idade era loira, mas seu cabelo curto de alguma forma não combinava com o formato de seu rosto, mas parecia uma peruca, tinha uma boca larga, um nariz fino e usava roupas sociais claras.
Todos os alunos tinham levado seu material de estudo nas bagagens, todos os livros eram cedidos pela escola mas o resto era com eles, como canetas, lápis e cadernos.
—Todos vocês que estão aqui sentados vieram por uma única razão, querem ser mais fortes, querem se tornar heróis, guerreiros Lauens, defensores de Sanduri. E a única forma de conseguirem isso é com disciplina. Precisam agir como adultos, não me importo com a idade de vocês, não serão tratados como crianças na minha aula. Não serão toleradas piadas, brincadeiras ou qualquer magia se não a que estiverem aprendendo. —enquanto anda entre os alunos os encarando nos olhos ela continua. —Todos vocês já são Lauens habilidosos para suas idades, caso contrário não haveriam de conseguir entrar aqui.
Essas palavras fizeram Adriel olhar pela sala procurando rick, mas ele não estava nessa turma com ele.
—Está procurando alguem meu jovem? —a professora pergunta para Adriel no meio da turma.
Adriel pensa em responder mas só balança a cabeça.
—Talvez pense que não precisa prestar atenção no que eu digo, já que é o neto do diretor. —isso trás todos os olhares para ele, e Adriel já conseguia imaginar o que estavam pensando. —Mas na minha aula você não terá regalias, então olhe para frente e continue a escrever tudo que eu digo.
Adriel de imediato se vira para frente e vê Akio se segurando para não rir dele.
—Existem três regras principais para todas as magias. Primeiro, não existe magia sem gastar energia, no caso essa energia nós conhecemos como o nosso Zen. Segundo, não existe energia sem ter uma vida, caso você morrer seu zen some junto com você e terceira regra, toda energia pode ser aumentada ou diminuída, não é por que você tem pouco Zen agora que vai ser sempre assim, basta treinar e trabalhar duro, no entanto, seu Zen também pode diminuir caso você relaxe. —A professora tinha dominado a turma, estavam todos ali de cabeça baixa anotando tudo que ela dizia, ávidos por conhecimento.
Cada aluno se vestia como achava melhor, não existia um uniforme, o único padrão era calça jeans para os meninos e saia para as meninas nas aulas internas, e não era permitido blusas regatas, mas cada um usava a cor ou tipo que quisesse, Adriel que não se importava muito com aquilo usava uma calça jeans escura simples, sinto preto, tênis listrado e uma camisa vermelha sem estampa que caia muito bem nele, já Akio com seu óculos fundo de garrafa e seu cabelo arrepiado usava uma blusa gola Polo listrada, calça jeans clara e um sapatenis marrom. Se via vários alunos de boné, para lá e para cá, mesmo ali na turma, a professora não parecia se importar com isso.
—Além das regras existem também as divisões dos Ranks das magias, toda magia possui um grau de dificuldade, e nós lauens também podemos aprimorar as magias, exemplo, eu aprendo uma magia de rank D, mas eu treino ela bastante durante anos na minha vida, treinei tanto que virei mestre nessa magia, com isso consigo aprimorá-la, então de rank D ela pode virar rank C, talvez até B por exemplo, o que aumenta bastante o poder dela e a transforma em única. Como todos vocês sabem, tudo é dividido em ranks, as magias, os lauens, os inimigos quando são detectados pelas runas, e até as poções.
Esses ranks vão do E, até o A, e somente os mestres dos mestres chegam no rank S.
—Vocês sabiam que além do zen que cada um de nós possuimos existe zen a nossa volta? Nas plantas, no ar? Isso ocorre por que o planeta que vivemos é um organismo vivo e ele possui sua propia quantidade de zen que pode sim se esgotar, e esse é o zen mais caro de todos. O preço para usá-lo pode ser alto de mais. Como todos já leram no manual, é terminantemente proibido usar o zen do ambiente, e alguém aqui sabe por que?—Akio levanta a mão.
—Por que o preço é muito alto?—responde com uma certa incerteza. Todos riem, mas logo param com a professora encarando a turma.
—Não era a resposta que eu esperava, mas sim, o preço é muito caro por que não é correto usar o zen do ambiente, quando se usa o zen ao nosso redor nós desregularizamos todo o ambiente e na mesma hora somos cobrados. Quanto mais usarmos pior o preço.—Ela vai até a janela e para na frente de costas para a turma. —Só utilizamos o zen do ambiente quando o nosso zen se esgota e mesmo assim tentamos fazer magias, não são todos que conseguem usar a energia fora do nosso corpo, mas para aqueles que conseguem, já informo que não é para fazer, caso descumpram o que eu digo vão ser expulsos da escola por botarem a si próprios e aos colegas em perigo.
—Que tipo de perigo professora? Ainda não entendi qual o preço de se usar o zen do ambiente. —Adriel pergunta.
—Depende do quanto você gastou. —a professora se aproxima dele bem lentamente e segura no cabelo longo do menino. —O seu cabelo pode cair e nunca mais crescer, você pode perder as unhas, pode sumir toda a sua habilidade de fazer magias para sempre, pode criar um tornado e devastar uma cidade inteira, como pode também, apenas causar uma dor de cabeça leve ou deixar você sonolento. Tudo depende do quanto de zen extra você pegar emprestado, normalmente conseguimos passar em até 10% do nosso próprio zen, mas algumas pessoas especiais podem chegar a 30%. E quanto maior o seu rank, maior o seu zen, imagina se alguém de rank S resolve gastar todo seu zen e ainda pegar emprestado mais 30%. Isso poderia destruir todo um continente. Então nunca usem energia que não lhe pertence, só em casos de vida ou morte, e as vezes nem assim.
—Não sabemos a quantidade de zen que temos dentro do corpo, mas a sentimos, conforme usamos magias, fazemos rituais ou qualquer coisa que exija nosso zen, então vamos sentir quando chegamos ao nosso limite.—Explica a professora Lemos.
—Agora peguem seus livros de Magia básica para iniciantes e coloquem na página 17.
A professora passa alguns exercícios, explica mais um monte de coisas como respiração, esvaziar a mente, acalmar o coração, todo o tipo de coisas que influenciam na hora de utilizar a magia, e termina a aula falando sobre o domínio delas.
—Um único Lauen pode aprender centenas de magias durante a sua vida, mas não significa que as fará todas com perfeição, existem graus de aprendizado que definem o quanto somos bons naquela magia, não adianta a magia ser de rank A se não a conseguimos dominar com perfeição, ou se o elemento é o oposto do que usamos. Vamos acabar usando o dobro da energia e conseguindo somente a metade do efeito desejado. —Adriel já estava de saco cheio da aula e pensava quando iria aprender alguma magia ao invés de toda essa baboseira de respiração, grau, regras e chatices, mas Akio estava super animado fazendo muitas perguntas e participando muito da aula, inclusive ele que fez todo o trabalho dos dois, por que Adriel só fez copiar dele.
—Às magias são divididas em inapto, aprendiz, mediano, tolerável e mestre. —A professora já estava se encaminhando para a porta. —De acordo com seu treinamento, por exemplo, você pode ser mestre em uma magia, tolerável em duas, mediano em cinco, aprendiz em 20 e ser inapto em todo o resto por exemplo. Inapto é quando você não sabe ou ainda está aprendendo a magia, aprendiz é quando você precisa dizer o nome corretamente e pausadamente, além de fazer gestos com maestria para que a magia saia perfeitamente, mediano a mesma coisa porém suas magias saem mais fortes, consegue falar os nomes mais rápidos e os jestos podem ser incurtados, tolerável é quando você só precisa falar o nome da magia para utilizar com o poder elevado e mestre você não precisa se quer falar, basta pensar que a magia é utilizada, além de sair em níveis mais fortes, o nível que uma magia chega é indeterminado, depende do lauen que a utiliza, uma mesma magia simples pode sair muito forte na mão de um mestre, e mais forte ainda na mão de um mestre melhor, não existe um teto. Mas para isso precisa de muitos e muitos anos de treino naquela magia específica. Agora saiam da minha sala, sumam daqui. —A professora abre a porta e expulsa a todos, Adriel da graças a Deus mentalmente.
Em quanto andam para a próxima aula, Akio vai contando que têm um primo de terceiro grau que ultrapassou seu limite de zen e começou a crescer cabelo em toda parte nele desenfreadamente. E hoje o chamam de coisa, de tão estranho que ele ficou.

as imagens retratam de forma abstrata o que eu gostaria de mostrar, porem como nao sou desenhista peguei as imagens na internet o mais proximas do objetivo possivel!